quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Dona Sinhazinha, minha Avó: paradoxos da humana condição



Dona Sinhazinha, minha Avó: paradoxos da humana condição


Recorrentemente lembro-me de minha querida avó, Dona Maria Amélia da Conceição, conhecida toda a vida por Sinhazinha.
Ela se foi em 19 de junho de 2005, em Niterói. Nascida no reinado do Papa Bento XV (1854-1922), despediu-se da vida terrena no de Bento XVI.
Minha avó era uma Antunes de Siqueira, família que Carlos Barata indica em seu “Dicionário das Famílias Brasileiras” (Rio de Janeiro, 1999, tomo I, vol. I, página 226) desta forma:

ANTUNES SIQUEIRA - Família de abastados proprietários rurais estabelecida na Zona da Mata de Minas Gerais. Descendem de Francisco Antunes de Siqueira, nasc. por volta de 1757, natural da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção do Couto de Alvim em Portugal, filho de Francisco Antunes e de Isabel de “Cerqueira”. Passou ao Brasil, onde casou, por volta de 1780, com Teodora Dias Pereira, natural da Freguesia de Barbacena deste Bispado de Mariana, Minas Gerais. Entre os descendentes do casal: I – o filho, Capitão Francisco Antunes-de Siqueira, natural de Portugal e fal. cerca de 1829. Com grande geração deixada do seu cas. com Maria Angélica de Magalhães, natural da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Catas Altas, no Bispado de Mariana (MG), filha de Bernardo de Magalhães e de Joana Angélica Álvares; II – o neto, José Antunes de Siqueira, filho do item I, que deixou geração do seu cas. com Laura Pereira Franco; III – o neto, Francisco Antunes-de Siqueira, filho do item I, natural da cidade de Piau - Minas Gerais, e falecido a 23.08.1881, em Angustura, Minas Gerais. Com geração do seu casamento com Francisca Carolina Côrtes Couto, falecida em Madre de Deus do Angu, atual Angustura - Minas Gerais, filha de Francisco Gonçalves Couto e de Ana Gonçalves Côrtes; IV – o neto, Antonio Antunes de Siqueira, filho do item I, nasc. em 1808, e falecido a 13.07.1874, em Madre de Deus do Angu, atual Angustura - Minas Gerais. Major; fazendeiro, proprietário da fazenda da Glória, Angustura (MG). Chefe do ramo de Juiz de Fora, do seu casamento com Josefina Emilia Villas Boas Coutinho, nasc. a 28.11.1821, no Pará, e falecida a 24.04.1914, em sua residência, no Largo da Grama, em Leopoldina, filha de José Alexandrino Vilas Boas Coutinho e de Lourença Emília Cavalcanti Jorge; V – o neto, Bernardo Antunes de Siqueira, filho do item I, que deixou geração do seu cas. com Francisca Veridiana de Padilha; VI – o neto, Domingos Antunes de Siqueira, filho do item I, que deixou geração do seu cas., a 17.04.1844, em São Januário de Ubá - Minas Gerais, com Maria Emília de Oliveira, filha do alferes João Antunes Nepomuceno e de Francisca Candida Umbelina (Barata, Famílias de Ubá); VII – o bisneto, Tobias Antunes Franco de Siqueira Tolendal, filho do item II, nascido em 1847, em Rio Novo, Minas Gerais. Com geração do seu segundo casamento com Minervina Amelia Spindola; VIII – o bisneto, Antônio Antunes de Siqueira, filho do item III, que deixou geração do seu casamento com Amélia Peixoto; IX – o bisneto, Francisco Couto Antunes de Siqueira, filho do item III, que deixou geração do seu casamento com Maria Balbina de Figueiredo Côrtes; X – o bisneto, Antônio Antunes Siqueira, nascido em 1848, em Angustura, Minas Gerais, MG, que deixou geração de seu cas., a 26.08.1871, na Madre de Deus do Angu, atual Angustura, com Ana Elisa Vidal Leite Ribeiro, natural de Leopoldina - Minas Gerais, filha de Manuel Vidal Leite Ribeiro e de Maria Teresa Monteiro de Barros, da importante família Vidal Leite Ribeiro (v.s.), de Minas Gerais; XI - a bisneta, Maria José Villas Boas de Siqueira, irmã do anterior, baronesa de Bonfim, por seu casamento, a 29.07.1879, no Rio de Janeiro, com José Jeronimo de Mesquita, nascido a 15.11.1856, no Rio de Janeiro, onde faleceu a 23.09.1895. Foi abastado capitalista, fazendeiro e proprietário. Era comendador da Imperial Ordem da Rosa. Agraciado com o título de barão de Bonfim, por Decreto de 19.08.1888. Filho do Barão, Visconde e Conde de Mesquita, Jeronimo José de Mesquita e de Maria José Willoughby da Silveira. O casal recebeu de presente de casamento do avô do noivo (Marquês) a Fazenda Paraizo, no distrito da Providência, Município de Leopoldina, onde ainda residia a baronesa em 1906.

Antonio Antunes de Siqueira (1853-1935), pai de nossa Sinhazinha, era um típico patriarca rural, dos tantos que Gilberto Freyre pesquisou e brilhantemente apresentou em Casa-Grande e Senzala, Sobrados e Mocambos e Ordem e Progresso, sua trilogia explicatória do Brasil.
Antonico Antunes era um “coroné”, ainda que eu desconheça qual tenha sido sua patente da Guarda Nacional. Sei que foi “intendente municipal” em Itaperuna e chefe republicano, mas não pesquisei os detalhes de sua carreira política. Antes de desposar minha bisavó, a bondosa sinhazinha Maria Amélia Ribeiro (1875-1965), ele havia sido casado com duas outras sinhazinhas do Noroeste Fluminense, Umbelina Elvira de Figueiredo Firmo e Úrsula Dias Fragozo. Desses casamentos ele trouxe para a terceira esposa oito filhos para que ela criasse. O problema é que minha bisavó já era viúva... Seu primeiro marido era ninguém menos que seu padrinho de batismo, com o qual havia sido unida aos 12 anos por vontade paterna e com as devidas dispensas episcopais... O padrinho-marido era o Capitão da Guarda Nacional Francisco Teixeira de Siqueira Sobrinho[1], o famoso Chiquinho do Barro Branco, dono de toda essa região do atual Município de Bom Jesus do Itabapoana (RJ). De uma primeira esposa Chiquinho do Barro Branco gerara seis filhos.


Antonio Antunes de Siqueira e seus filhos, netos (e bisnetos?).
Sinhazinha está à direita de seu pai.
Cerca de 1927. São José do Calçado (ES).



Quando desposou Maria Amélia Ribeiro, Antonico Antunes era um viúvo na casa dos 50 anos e ela, uma viúva na casa dos 25. As proles de ambos somavam onze crianças vivas; o novo casal produziu mais nove filhos: Antonio (morto bebê), Braz, José, João, Antonino, Gastão, Joviano, Otaviano e Maria Amélia da Conceição. A matemática absurda dessa sucessão de casamentos gerou o fato de que minha bisavó criou quase trinta filhos e enteados!!! Todos tinham os nomes católicos de estilo, mas eram conhecidos por seus apelidos (Nenzinha, Filhinha, Tudinha, Carlitos, Zezé e outros.).


Sinhazinha, aos 12 anos.
São José do Calçado (ES), 1929.


Minha avó, que, ao ser registrada no cartório da pequena São José do Calçado (ES), onde nasceu a 15 de janeiro de 1917, era a ÚLTIMA desses entroncamentos genealógicos[2], ganhou o prenome triplo de Maria Amélia da Conceição, sempre alegou que seu nome seria apenas “Maria da Conceição” mas que o escrivão acrescentou o “Amélia” por causa do nome da mãe e da avó materna (a primeira Maria Amelia da Conceição e a segunda Amelia Maria da Conceição). Não se sabe se foi assim, mas é muito provável que tenha sido. Ao nascer, após vinte irmãos e meios-irmãos, ela foi “oficialmente” declarada SINHAZINHA de todos eles por Antonico Antunes. Em 20 de junho de 1917, a pequena Maria (consta só isso no registro paroquial) foi levada à pia batismal por Demerval Medina e Áurea Álvares Medina, na Igreja Matriz de São José do Calçado.



Antonico Antunes, sua mulher Maria Amélia de Siqueira,
seu filho José (Zezé), sua filha Sinhazinha (seg. da esq. p/ dir.) e a neta, Lanta.
Cerca de 1932. Praça XV, Rio de Janeiro.


Pelo que ouvi e interpretei do que minha avó sempre me contou, Antonico Antunes era uma pessoa autoritária, racista e vaidosa — ou “besta”, no linguajar mineiro daqueles anos 1910, 1920 e 1930. Era antipático aos pretos e se negava a cumprimentá-los quando “ousavam” lhe estender as mãos. Já contei, em outro texto, o que ele dizia nessas horas: “Tu não te enxergas, negro!”... Todavia, quando estava à morte, um médico negro cuidou dele e, ao morrer, este mesmo médico carregou uma das alças de seu caixão. Esse paradoxo gritante sempre me chamou a atenção, pois minha avó era, ela própria, racista e preconceituosa, como de resto a imensa e esmagadora maioria de seus contemporâneos.
Quando ela adoeceu, no início de 2005, vítima de um câncer de pâncreas, altamente letal, acompanhei com minhas tias e meu pai seus últimos dias no hospital e pude ver cenas inusitadas. Uma delas era que ela beijava a mão de muitas das pessoas que a iam ver. Tirante o bom Padre Carmine Pascale, que levei na festa de Santo Antonio (13 de junho) para ministrar-lhe os Santos Sacramentos, era estranho a mim ver Vovó Sinhazinha beijando a mão de diversos “inferiores hierárquicos” dela, como sua sobrinha Terezinha de Jesus Siqueira ou a moça que limpava o quarto, uma servente negra... Beijava-lhes a mão e chorava, sempre...
Estranho, mas não incompreensível. Tal como muito provavelmente ocorrera com o pai dela, aproximando-se da morte e verdadeiramente se arrependendo, em seu coração, por décadas de comportamentos preconceituosos e racistas, Vovó Sinhazinha se redimia antes de se apresentar ao Todo-Poderoso no qual ela acreditou por toda a vida. Católica fiel e devotada, rezava diariamente, às 15h, durante uma hora, fechada em seu quarto, sem que ninguém pudesse interromper. Implorava a Deus e a Nossa Senhora Aparecida (nossa Mãe do Céu preta!) pelos filhos, netos, parentes e, também, pelas “crianças que perambulam pelas ruas, pelos velhos abandonados etc.”, conforme ela me narrava quando eu lhe perguntava do que se compunham suas prédicas.
Sua filiação ao Catolicismo era incondicional, até por não simpatizar e desconhecer as demais religiões cristãs e não-cristãs. Mas ela não ia à Missa aos domingos, contrariamente ao que se dera com sua mãe e a imensa maioria de seus antepassados, mulheres e homens de famílias muito religiosas e cheias de cônegos. Nisso já havia algum tipo de ruptura, ainda que ela não soubesse e nem quisesse saber como explicar.
Ela me dizia que seu pai era muito emotivo e que chorava muito. Quando via um filho, quando abençoava um neto, quando encontrava um velho amigo. Ela era igual... Algo que talvez se aproximasse da mania depressiva, mais do que de uma simples melancolia. Após a perda de toda sua fratria — o último a ir foi Tio Gastão Antunes de Siqueira (†2003), que eu visitava muito em Icaraí, junto com Vovó — e da sua queridíssima amiga de infância Maria da Conceição Cerqueira Cardoso de Campos — Pequetita[3], sobrinha de meu avô Lelé, que se foi em março de 2005 —, suas angústias e tristezas somatizaram o câncer que a ceifou[4].
Vovó tinha por mim um carinho especial. De seus três únicos netos, eu era o do meio e “sobrava”, de algum modo, entre um irmão primogênito e homônimo de meu pai e um mais novo, eterno enfant gatté de minha mãe. Desde muito pequeno eu amava profundamente ela e tudo que representava: o passado, o poder, a autoridade, a família, a religião. De fato ela sempre encarnou para mim valores dos mais tremendos e que, hoje, entendo por que são considerados arcaizantes por tantos filósofos, historiadores e cientistas sociais em geral.
Um dos paradoxos mais interessantes a mim, e que responde em grande parte pela personalidade isabelófila que desenvolvi, era sua relação de amor/ódio com Dona Isabel (1846-1921), a Redentora da História do Brasil. Ela sempre dizia que “a culpa das coisas darem errado no Brasil é da Princesa Isabel, que libertou a negrada e provocou a desordem”; essa era a fórmula paterna. De outro lado, ela me contava em detalhes e com entusiasmo a alegria de sua mãe quando, aos 13 anos, assistiu às festas pela Abolição (1888) na fazenda do pai e na Zona da Mata de uma maneira geral. Enquanto narrava, Vovó embargava a voz... humano, demasiado humano...
Voltemos a sua biografia. Aos treze anos de idade, Sinhazinha foi obrigada a noivar com o jovem Eristhildes Euzebio, o Lelé. O apelido, embora se assemelhe ao vocábulo popular que designa uma pessoa “doida”, não tinha essa conotação específica e era um dos muitos que definiam a prole de Joaquim Mendes de Cerqueira (1877-1954) e sua mulher, Jozina (nascida Lomeu de Oliveira Bastos) — os irmãos de Lelé eram Quidinho (Euclides), Belinha (Elvira), Tide (Erothilde), Ladinho (Esberalde), Didi (Edivaldo), Edith e Elsa. Em outra oportunidade falarei desses meus bisavós, tios-avós e suas histórias.
Lelé era uma espécie de “playboy” rural da época — um agroboy, diríamos hoje. Seu pai saíra de São Paulo de Muriahé (MG) em meados da década de 1910 para se estabelecer em Bom Jesus do Itabapoana, noroeste do Estado do Rio de Janeiro, na divisa com o Espírito Santo. Não sei se houve briga familiar, por partilha e coisas do gênero, mas o fato é que Sô Quinca Cerqueira foi viver com seus filhos e colonos na pacata Bom Jesus, então distrito do Município de Itaperuna.
Em Muriaé e nas pequenas cidades erguidas na ribeira do rio de mesmo nome, em Minas e no Rio, os Cerqueira eram potentados rurais com os demais landlords (expressão rebouciana) que haviam desbravado a Zona da Mata mineira: os Pinto, os Cezar, os Penna, os Garcia, os Bastos e outros. É o que nos relata o livro “Terra da Promissão” (1956), do Major Porphyrio Henriques da Silva (1868-1953), um deputado da antiga Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro sediada em Niterói. Porphyrio Henriques havia sido, na infância e adolescência, um colono da família Cerqueira Bastos.
Lelé nasceu em Muriaé, em 14 de outubro de 1910, na Fazenda Boa Sorte[5]. Foi dificílimo para mim descobrir no livro de batismo paroquial seu registro, pois o padre o batizou como “Arestides” por obviamente desconhecer as manias de Jozina Lomeu de Cerqueira no quesito “nomes exóticos”. O padrinho de Lelé era o Coronel Domiciano Antonio Monteiro de Castro (1821-?), seu tio-avô-afim, pois que a esposa dele e madrinha do bebê era Landolina Mendes de Cerqueira, a tia de Sô Quinca CerqueiraDomiciano de Castro, que presidiu a Câmara Municipal de Muriaé na década de 1880, era sobrinho do 1º Barão de Leopoldina, Manoel José Monteiro de Castro (1805-1868) e do 2º Barão de Congonhas do Campo, Lucas Antonio Monteiro de Castro (1812-1878). Os Monteiro de Castro são o ramo leopoldinense dos poderosos Monteiro de Barros, espraiados em todas as Minas Gerais...
O noivado de Lelé e Sinhazinha, em 1930, foi um desejo dele, que se encantou pela donzela numa festa ou quermesse ocorrida em Bom Jesus. A moça era de “fechar o comércio”, como se dizia, ou seja, muito bonitinha. Mas não queria nenhuma obrigação, pois em suas palavras “queria jogar peteca, pular corda, brincar de boneca” e Lelé queria noivar (leia-se namorar). Da obstinação do noivo e do desprezo da noiva nasceu um compromisso que, frise-se, não era almejado pela mãe e algumas irmãs do jovem Lelé. Já ele, o mancebo, andava armado, como os outros jovens ricos de sua época também faziam, e dizia à noiva que se ela não o quisesse, se teimasse em desprezá-lo, ele dispensaria “seis balas do revólver” no rapaz que ousasse se aproximar dela, bem como nela própria, situação que incutia um medo considerável na pequena Sinhazinha.
Os Cerqueira eram uma das famílias mais ricas na Bom Jesus daqueles tempos. O primeiro automóvel da cidade, importado do Reino Unido no início dos anos 1920, pertencia a Dona Jozina, uma “coronela” bem mais imperiosa do que seu pacato marido... A sede da fazenda central da família possuía banheiro (salle de bains) e era decorada com afrescos e tapeçarias europeias. Eles produziam açúcar, café, material de olaria e tinham casas de aluguel e outras rendas.
Sinhazinha, apesar da origem "nobre", era pobre. Pois que ao nascer seu pai havia dilapidado integralmente o patrimônio da terceira e última esposa, a viúva do rico Chiquinho do Barro Branco. Nas mesas de pôquer, o perdulário Antonico Antunes desfez-se de terras, gados, casas que, observe-se bem, não eram suas, mas que pelo Código Civil de então cabia-lhe administrar, sendo a mulher uma “incapaz”. O resultado dos desatinos do marido foi conceder a Maria Amelia uma velhice pobre e insegura. O casal foi separado pelos filhos nessa ocasião, quando Sinhazinha era uma criança de talvez 10 anos. As filhas de Maria Amelia e Chiquinho do Barro Branco, por motivos óbvios, odiavam o marido de sua mãe e transferiam aos seus meios-irmãos esse ódio; algo comum, bem comum...
A mais velha dessas irmãs, Bezica (Maria Teixeira de Siqueira) era casada com Leonides Furtado Tardin (1888-1985), administrador da fazenda de Sô Quinca Cerqueira e, ele mesmo, pequeno agricultor. Com ela viviam a mãe e a irmãzinha menor, Sinhazinha. Bezica e suas irmãs Neném (Leonor) e Pitita (Francisca) tiranizavam-nas, uma vez que não podiam fazer nada contra Antonico Antunes, já idoso e acamado em casa de um filho, no Calçado (ES).
De maneira que a infância de Sinhazinha foi sofrida, com humilhações constantes de suas irmãs maternas. Foi necessário que morresse o pai de Maria Amélia, avô de nossa biografada, para que elas pudessem, com a partilha da herança do pequeno fazendeiro luso-brasileiro João Caetano da Costa Ribeiro (†1932)[6], adquirir uma casinha e sair da residência de Bezica. Juntos foram com elas os antigos escravizados Tia Fidá, Modesto e Generosa, amantíssimos de sua sinhá Maria Amelia, a qual, em criança, saía do quarto de madrugada para apanhar na dispensa de sua casa alimentos os mais diversos e levar para a senzala...
Vivendo sozinha, embora sempre muito visitada — lembremos dos cerca de 30 filhos e enteados que criou — Maria Amélia temia morrer e deixar no desamparo sua caçula, motivo pelo qual aceitou de bom grado que o menino Lelé noivasse com ela, mesmo que a contragosto da menina. Como já dissemos acima, o noivado desagradava Sá Josina e especialmente sua filha mais velha, Belinha (Elvira), mas era bastante abençoado por Quinca Cerqueira, um bon-vivant que adorava as mulheres, a música e a religião... Ultracatólico, e cheio de amantes e filhos bastardos — aos quais nunca desamparava —, o latifundiário era um violeiro adorado por todos que o conheciam. Como minha avó sempre repetiu para mim, “Sô Quinca Cerqueira gostava de todos: ricos, pobres, brancos, pretos, de forma que todos o amavam”.
Certa feita, irritado com a irmã mais velha que o desejava noivo de uma prima rica, do ramo Cerqueira-Pinto, Lelé desligou o gerador de energia da fazenda que mantinha a “luz própria” daquela casa-grande enquanto toda Bom Jesus dormia, após as 20 horas. Isso ocorreu na ocasião de uma grande festa, parece que noivado de um dos irmãos de Lelé, e causou rebuliço no lugarejo...
E foi assim que a 21 de junho de 1934 uniram-se em matrimônio os jovens Eristhildes Euzebio e Maria Amélia da Conceição. Acompanharam-nos apenas a mãe da noiva e poucos irmãos seus. Da família do noivo, a demonstrar o repúdio, não foi ninguém, por ordem expressa de Dona Jozina, a quem até o marido temia... Lelé desposou sua amada Sinhazinha, embora ela jamais o tenha amado, apenas respeitado, conforme sempre ressaltou.
Quanto à família de Lelé, todo o seu orgulho de classe e de casta estava com os dias contados... Entre 1936 e 1937 — não pude apurar, até hoje —, Sô Quinca Cerqueira foi enredado por três “amigos” e assinou duplicatas que somavam a absurda e vultosa quantia de 300 contos de réis[7]. Dois deles eram advogados e o outro, fazendeiro de prestígio no local, era Francisco Ribeiro Aquino, o Chichico das Areias (do nome de sua propriedade, a Fazenda das Areias), que consta ter sido neto do Barão de Aquino (1837-1921). O interessante é visualizar, através do portal Geneall.net, que um dos filhos do Barão de Aquino, também Francisco, era marido de Rita de Cássia Antunes de Siqueira Domingues, uma prima de Antonico Antunes...
As duplicatas, acertadas no sistema financeiro carioca, foram motivo de discórdia do casal Joaquim-Josina, pois que a mulher não queria assiná-las de nenhuma forma e o marido, eterno fiador de seus amigos, impôs o negócio jurídico. Não tendo sido saldadas as duplicatas, os bancos do Rio de Janeiro foram a Bom Jesus do Itabapoana confiscar a quase totalidade dos bens de Joaquim Mendes de Cerqueira, levando-o à bancarrota. Após a fase em que filhos e colonos pensaram em matar Chichico das Areias e os comparsas na ação, a família retirou-se para Rio Bonito, interior do Estado do Rio de Janeiro, onde se estabeleceram em pequena chácara.
A débâcle deixou cicatrizes profundas, em todos.


Lelé e Sinhazinha com a filha Marildes.
1938/1939. Niterói (RJ).

Lelé e Sinhazinha se fixaram em São Gonçalo (RJ), região metropolitana de Niterói, a então capital fluminense, em 1938. O local é município antigo da Província Fluminense e teve na pessoa do Barão de São Gonçalo (1791-1873) seu grande apogeu político, nas décadas de 1850 e 1860. Durante os anos 1920 e 1930 recebeu levas de migrantes dos diferentes êxodos rurais, tanto do próprio interior do Estado, quanto de outros rincões brasileiros. A cidade estava longe de ser o que é hoje, uma urbe desordenada e em grande parte insalubre; tratava-se da vizinha de Niterói, onde o custo de vida era alto, por ser capital, e se constituía em uma alternativa semirrural aos que vinham do campo.
O primeiro filho de Sinhazinha e Lelé, Sebastião Antunes de Cerqueira — o nome de família passou a ser a junção do primeiro nome paterno da mãe, Antunes, com o Cerqueira, pois ela rejeitava peremptoriamente que seus filhos se chamassem Siqueira de Cerqueira — foi bebê enfermiço. Nascera em 8 de janeiro de 1936 e falecera meses depois, vitimado pela desidratação (!). O segundo filho foi Marildes, nascida em Bom Jesus no 1º de janeiro de 1937; o terceiro foi o temporão Antonio, nascido em 16 de dezembro de 1949, em São Gonçalo, e a última foi Maria da Graça, nascida em 25 de maio de 1954, no Hospital Universitário Antonio Pedro, recém-inaugurado em Niterói pelo Presidente Getúlio Vargas.
Dos píncaros de uma sociedade pequena e rural para a vida nos arredores da capital de seu Estado, a vida se mostrou duríssima para o casal. Lelé fora aluno do célebre Colégio Bittencourt, de Campos dos Goytacazes, que reunia quase todos os filhos das classes dirigentes do Norte Fluminense. Contudo, acompanhou seus irmãos mais velhos nas inúmeras fugas que intentavam, retornando a Bom Jesus e teimando em não estudar; algo que certamente causava cizânia entre Sô Quinca Cerqueira e Sá Jozina... O resultado foi que na clivagem profunda que separa os que recebem e os que não recebem educação formal, em pleno Brasil da República Velha e da Era Vargas, Lelé se tornou um operário, literalmente um torneiro mecânico, pois que adorava mexer com ferramentas, madeiras e outras peças manuais.
Essa é uma parte da psique de meu avô que jamais pude compreender. Como não o conheci — ele morreu quando eu tinha 7 anos —, apenas pelos relatos de sua viúva, nunca entendi o porquê de sua radical opção por algo tão “desaristocratizante”. Lembremos que os antigos códigos morais da nobreza lusitana ditavam que apenas um trabalho braçal não fazia com que se perdesse a “condição fidalga”: lavrar terras. Todo o resto era considerado vexaminoso e, em especial, as atividades mecânicas eram tidas por desonrosas. Por mais arcaico e absurdo isso nos pareça em pleno século XXI, é óbvio que às mentes de Lelé e Sinhazinha e sua parentela nada disso passava despercebido, ainda que as filigranas de legislações nobiliárquicas avoengas lhes fossem completamente alheias.
Por outro lado, sabendo do gosto enorme por máquinas e engrenagens que tinha o jovem Lelé é de se imaginar que, se letrado, pudesse ter sido engenheiro mecânico, mas não tendo seguido a vida acadêmica normal, foi-lhe impossível essa via. Também não se deve desprezar o fato de que, segundo Sinhazinha, Lelé sempre destoou muito de seus familiares, no quesito “orgulho de casta”, o que vale dizer que não era aristocracista[8] . Ele era um dos filhos de Sô Quinca que mais se dava com os colonos, preferindo comer no meio deles quando das matanças de animais (bois, porcos, cordeiros, aves) que regavam, comumente, as festas da fazenda. Causava-lhe tanto asco ver esse espetáculo mórbido que passou toda vida comendo cereais e legumes com frango ou peixe, tout court.
Lelé tinha uma personalidade um tanto rude, é inegável. Enquanto Sinhazinha abraçou com afinco seus dotes manuais artísticos, tornando-se exímia costureira e sabendo como ninguém bordar, crochetar, tricotar, o marido queria apenas e tão-somente voltar-se para a Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas, ramo da norte-americana Hime and Comp., instalada no distrito de Neves, em São Gonçalo.
Sobre o papel que o ofício escolhido por Sinhazinha exercia na vida dos “parentes pobres” das diferentes oligarquias, diz Sérgio Micelli em “Poder, sexo e letras na República Velha” (São Paulo: Perspectiva, 1977):

A costura possibilita aos “parentes pobres” o acesso às famílias dominantes de sua classe de origem, com tudo o que tal proximidade implica em termos de prospecção de postos e de carreiras disponíveis para seus filhos e para si mesmos. Tendo em vista que o trabalho feminino e seus produtos (educação dos filhos, trabalhos domésticos, trabalho de costura etc.) são desvalorizados, o capital de relações propicia lucros ainda menores quando, como no caso de Humberto, o recurso à oligarquia se faz por intermédio da mãe. A costura simboliza a própria relação em falso dos “parentes pobres” com a oligarquia, vale dizer, o “gosto” constitui o único bem que lhes sobrou de sua convivência com ela. Os bens produzidos pelo trabalho manual feminino — como, por exemplo, a costura — apresentam inúmeros traços comuns com os bens simbólicos em geral, na medida em que sua produção exige uma competência que só pode ser adquirida pela posse de um habitus de classe apropriado, isto é, por uma mesma origem de classe. O “gosto” e os contatos sociais requeridos pelos trabalhos de costura encomendado pela oligarquia pressupõem o domínio prático de todo o estilo de vida dessa classe. (...) Por exigir muitos cuidados, minúcias e um bom acabamento, condições indispensáveis para produzir diferenças mínimas, a costura é ao mesmo tempo a mediação prática pela qual um dado agente interioriza a experiência do declínio (em especial, a perda do capital econômico) e por meio da qual um novo projeto, a vocação intelectual pode concretizar-se pela feminização da família e da criança.

Embora rígida em matéria de moral e costumes, Sinhazinha adorava as idas ao Cassino da Urca, em geral na companhia de seu irmão mais velho, o Major Siqueira (Braz Antunes de Siqueira), o qual inclusive parece que combateu na II Guerra Mundial. Outro fator de diversão imensa dela eram as idas à Rádio Mayrink Veiga e à Rádio Nacional, nos “anos dourados”. Conheceu de perto e tietou um sem-número de grandes cantores, radialistas, atrizes e atores.
Desde as radionovelas, era uma fã incondicional desse gênero artístico e conhecia a biografia de muitos dos grandes intérpretes. Nos últimos anos de vida, contudo, perdeu o vigor no apreço pelos rocamboles globais; considerava tudo muito decadente e erotizado, o que lhe incomodava. Vovó deixou pencas de fotos autografadas e bilhetes dessas personagens, misturadas às fotos de família... o que me faz pensar no forte desejo de ter pertencido, de alguma forma, àquele mundo de glamour. Talvez exatamente por isso me tenha dito, várias vezes, quando criança, que eu poderia ser ator. Quando, porém, na adolescência, externei a vontade de ser padre, já que sempre me identifiquei enormemente com a Igreja onde nasci e cresci, ela foi a maior entusiasta, desde o início. Nem o sabia, mas descendia por vias colaterais de dezenas de sacerdotes...
Apesar de não ser gorda, era glutona, e devorava uma caixa de sorvete de flocos durante o prazo de um dia... Preferia imensamente doces a salgados. No trato com as empregadas, que preparavam-lhe as guloseimas, nunca era ríspida, mas sempre autoritária, docemente autoritária, devo dizer... Aliás, nesse quesito, é forçoso reconhecer como nela o amor e a autoridade, a afetuosidade e a autocracia, se coadunavam de modo impressionante.
Minha avó tinha uma inteligência aguçada e um víeis cômico latente. Mal sabia ela que seu avô, Felício Antunes de Siqueira, antigo fiscal da Câmara Municipal de Ubá, fora o primeiro empresário circense de todo Norte Fluminense, no século XIX. Mas ela nem sonhou em conhecer o pai de seu pai. Afinal, quando Sinhazinha nasceu, Antonico estava com 65 anos...
Junto a Sinhazinha e seus filhos foi viver a idosa Maria Amélia, venerada por toda sua numerosa descendência. Suas filhas mais velhas fizeram bons casamentos, para a época, e as filhas delas também. Entre as netas de Maria Amélia com as quais a tia Sinhazinha se dava muito bem estavam Arlette (1920) e Arleida (1924); a primeira, com o marido Raul Gilberti, é a madrinha de Maria da Graça; a segunda, com o marido Miguel José Cassab (1916-1997), é a madrinha de Antonio.
Raul Gilberti (1914-1981), capixaba de Colatina, graduou-se em Medicina no Rio de Janeiro e voltou à terra natal para a política local. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Colatina (1950-1954), prefeito (1956-1959) e vice-governador do Estado do Espírito Santo (1958-1962). Eleito Senador da República em 1962, ficou na casa até 1971.
Maria Amelia de Siqueira — era assim que se assinava —, devota de Maria Santíssima, São José e Santo Antônio, foi uma ativa paroquiana da comunidade de Nossa Senhora das Graças, em Porto Velho, distrito de Neves, Município de São Gonçalo. O histórico dessa paróquia aponta que em 1942 um grupo de moradores, mormente senhoras, se reuniu para construir uma capela onde o vigário de Santo Antônio, na Covanca, pudesse celebrar aos domingos e dias santificados. Cinco anos depois, quando o Papa Pio XI (1857-1939) canonizou S. Catarina Labouré (1806-1876) deu-se o início da construção da cripta, com dinheiro de gente de toda parte. Maria Amelia foi uma das chefas desse movimento e pediu a Sinhazinha que se tivesse mais uma filha a chamasse “Maria das Graças”, o que se deu em 1954, tendo Lelé optado, contudo, por “Maria da Graça”.
O desaparecimento de Maria Amélia, extremamente simbólico, deu-se uma década depois. Era o dia 13 de junho de 1965. Durante a procissão de S. Antônio, naquela comunidade de Neves, em São Gonçalo, todos assistiam curiosa e piedosamente à aproximação do andor, carregado pelos varões católicos. Quando o andor passou em frente à casa de Lelé e Sinhazinha, Maria Amélia expirou... Zelson Tardin, filho de Bezica, gritou: “Vovó morreu!” e todos foram para o quarto beijar a mão da queridíssima matriarca. Com ela morria também grande parte do passado profundamente rural daquela imensa progênie.
Os filhos de Sinhazinha e Lelé e os demais netos e bisnetos de Maria Amélia tiveram, todos, acesso a boa educação e se encaminharam, uns para a vida acadêmica, outros para o mundo da Medicina, do Direito, das profissões liberais etc.
Como exemplo, temos na atual Colatina o cardiologista Antonio Tadeu Tardin Giuberti, filho de Raul e de Arlette. Antonio Giuberti já foi o prefeito do município em dois mandatos: 1983-1988 e 1993-1996.
Na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), a assistente social Maria Aparecida Tardin Cassab (1956) leciona na Faculdade de Serviço Social. No Museu de Ciências da Terra, do Departamento Nacional de Produção Mineral, atua a paleontóloga Rita de Cássia Tardin Cassab (1948), irmã da anterior.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF) coordena o departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Medicina a bioquímica Maria da Graça Antunes de Cerqueira Saback Sampaio, minha tia. Sua irmã mais velha, Marildes, contadora e advogada, foi servidora de carreira do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.
Meu pai, Antonio Antunes de Cerqueira, casou-se em 1974, na Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora (casa-mãe dos Salesianos do Brasil) em Niterói, com Leila Maria Souza da Silva (1949), natural de São Pedro da Aldeia. Antonio é professor aposentado de Música, de Português e de Inglês; lecionou durante mais de trinta anos em diversos colégios católicos de Niterói. Leila, que foi professora primária, é assistente social e servidora aposentada do INSS. Eles geraram Antonio Júnior (1975), Bruno (1979) e Cristiano (1980); divorciaram-se em 1987.



Dona Maria Amélia da Conceição Antunes de Cerqueira e o 

neto Bruno e Dona Juracy Baptista de Souza da Silva

e o neto Cristiano. Santa Rosa, Niterói (RJ), 1981.



Meu irmão Cristiano (professor de Educação Física, treinador paralímpico e oficial de Marinha) já me deu a sobrinha-afilhada Luana de Souza Cerqueira (2001) e Manuela (2013); meu irmão Antonio Júnior (servidor da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro), os sobrinhos João Pedro Araújo Antunes de Cerqueira (2004) e Maria Eduarda Araújo Antunes de Cerqueira (2006).


Dona Sinhazinha, seus filhos e netos, na entrada do Ed. Mônaco.
Icaraí, Niterói (RJ), 1990.


E como findou-se o casamento de Lelé e Sinhazinha? Com a morte do marido, em 27 de setembro de 1986, em Niterói, em conseqüência de um derrame. Ele sofrera durante seus últimos anos de esclerose, doença que pude observar, em pesquisa, acometer um bom número de familiares e parentes dele. Por causa da doença e do aspecto violento que ela trazia a suas reações, fora internado em uma casa de saúde bastante lúgubre, em Rio Bonito, onde o visitávamos amiúde.
Que descansem em paz meus queridos avós paternos. Rabiscando estas poucas linhas e as esparsas pesquisas que as embasam, homenageio Vovô Lelé e Vovó Sinhazinha, inclusive por fazer algo que sempre foi sonho dela: escrever sua vida...

Bruno da Silva Antunes de Cerqueira*

Brasília, 15 de janeiro de 2014
(97º aniversário de nascimento de Sinhazinha)






[1] Não sei informar se existe parentesco entre os Teixeira-de-Siqueira e os Antunes-de-Siqueira. Não deixa de ser interessante que muitos dos netos de Antonico Antunes se referissem à mulher do avô como “a Prima”, segundo me contaram sobrinhas de minha avó. Mas isso podia ser mera usança. Outro enigma genealógico para mim constitui saber se o Visconde de Itabapoana, Luiz Antonio de Siqueira (1796-1879), coronel da Guarda Nacional, tinha alguma conexão com ambos os clãs...
[2] “Entrelaçamento Genealógico” é justamente o livro que o Engenheiro José Côrtes Sigaud (1896-1951) escreveu para dar conta dos casamentos entre os Côrtes, os Figueiredo, os Sigaud, os Antunes de Siqueira, os Guedes, os Villas-Boas, os Couto, os Teixeira Leite et alii. A obra foi publicada postumamente, pelo General Agostinho Teixeira Côrtes, em 1968.
[3] Sinhazinha e Pequetita, amigas de vida inteira, jazem enterradas uma em diagonal à outra, no Cemitério do Parque da Colina, em Niterói...
[4] A última pessoa a estar com ela antes do momento derradeiro fui eu, quem a levou para o CTI junto com os maqueiros. Eu sabia que não mais a veria viva, embora jamais estejamos plenamente preparados para isso. Já vertendo lágrimas, eu lhe disse “Vó, tudo com Nossa Senhora!” e me retirei, sob as ordens dos funcionários do setor. Algumas horas depois, às 15h daquele Domingo, eles anunciaram que ela havia morrido...
[5] O nome me intriga: seria prenúncio do que ocorreria com seu núcleo familiar...?
[6] A morte de Sô João Ribeiro também me foi contada por Vovó diversas vezes. Enquanto ofegava, todos rezavam a sua volta e ele dizia “Jesus está vindo! Vinde Senhor Jesus!”. E partiu...
[7] Algo em torno de 40 milhões de reais, segundo alguns dados econômicos — cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%A9is. Contudo, se o valor aquisitivo da liquidez dos bens for aferido, a soma tende a ser consideravelmente superior.
[8] Conforme costumo ressaltar, aristocracismo difere conceitualmente de aristocracia. É um conjunto de atitudes e comportamentos que repugna particularmente aos pensadores gramscianos. O ethos aristocrático valoriza a honra, a glória, a nobreza, mas enaltece e propugna a solidariedade, a fraternidade, a caridade social. O aristocracismo é o orgulho desmedido pelas origens e pela condição social superior, e aparta-se completamente da realidade circundante. Aplicando-se as filosofias tanto de Karl Marx (1818-1883), quanto de Sigmund Freud (1856-1939) — que se alimentam, em grande medida, do judaico-cristianismo —, é uma das formas mais aparentes da alienação.

* Bruno da Silva Antunes de Cerqueira é graduado em História na PUC-Rio, pós-graduado em Relações Internacionais pelo Iuperj/Ucam, bacharelando em Direito no UniCEUB. É indigenista especializado da Fundação Nacional do Índio (Funai). Fundou e gere o Instituto Cultural D. Isabel I a Redentora (www.idisabel.org.br); é sócio e foi diretor de publicações do Colégio Brasileiro de Genealogia (www.cbg.org.br). É membro do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói. 










4 comentários:

  1. Oi Bruno foi muito legal achar a historia da família no seu Blog. Sou Bisneta de Sá Josina e Sô Quincas. Já contei essa história do carro da vó Josina, "que ela levou o prefeito e o vigário para passear e o delegado ficou bravo...." para minha filha levar para escola como "historia dos antepassados" foi um sucesso rsrsrs. Conheci tia Pequetita, ia na casa dela em niteroi.
    Estou buscando saber da história da família, se pudermos trocar informações.
    Parabéns pelo seu trabalho tão bem detalhado

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    1. Boa tarde. Somente hoje vejo esse comentário. Criei este BLOG mas nunca entro nele... caramba!

      Bem, não consta seu nome aqui. Somente UNKNOWN. Se puder me envie msg em brunoantunesdecerqueira@gmail.com

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  2. Bruno, bacana o texto. Não deu pra ler o texto todo sobre a sinhazinha mas li grande parte.
    Me interessei porque sou descendente de Antunes de Cerqueira.
    Por favor, me explica, vc é descendente de Antunes Siqueira e se chama Antunes Cerqueira, porque?
    Meu email moradilson@hotmail.com

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    1. Boa tarde. Somente hoje vejo esse comentário. Criei este BLOG mas nunca entro nele...

      Sou Antunes de Siqueira pela minha avó e Mendes de Cerqueira pelo meu avô.

      Existem "Antunes de Cerqueira", na região de Barroso-MG que eu imagino sejam AdeS e não AdeC, tendo havido alguma erronia nas transcrições cartoriais. Mas ainda assim é algo a averiguar.

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