sábado, 1 de fevereiro de 1997

Dinastias: África, Ásia, Oceania...


ETIÓPIA - Casa de Salomão

 
A Dinastia Etíope, ou seja, o ramo dos descendentes do lendário matrimônio do Rei Salomão (filho do Rei David) com a Rainha de Sabá, seria proveniente de Menelik I, filho da citada união e considerado o primeiro Imperador da Etiópia. Dele descende, se bem que muito improvavelmente, toda a Linhagem Imperial Etíope até os nossos dias.

Muito pouco conhecida pelo Ocidente, essa foi certamente a Família Reinante estrangeira que mais despertou interesse na Europa, por se tratar da única em África que professava a Fé Cristã. Era no mínimo intrigante para um Rei Cruzado medieval o fato de que não precisava lutar com um Soberano de uma Monarquia em pleno Norte Africano, então totalmente fanatizado pelo Islã.

Foi justamente por causa desse interesse incomum aos europeus que nasceu a lenda do "Preste João", um Príncipe ou Soberano Cristão cujo Estado estaria encravado entre centenas de outros governados por Monarcas muçulmanos. O desejo de chegar a esse aliado da Cristandade foi uma das motivações ideológicas conexas das Grandes Descobertas. Possíveis Embaixadores do Preste João teriam visitado Lisboa em 1452, pelo interesse pessoal do Infante Dom Henrique de obter seu auxílio na luta contra o Islamismo.

Sabe-se que em 1270, Yekuno Amlak, Chefe dos Príncipes Amáricos, reconquista o trono, restaurando assim a Dinastia Salomônida que havia sido deposta há quase dois séculos por Príncipes de uma Dinastia não-Salomônida denominada Zagwe.
Com ele, prossegue uma Linhagem que, a despeito de não respeitar nenhum conceito de primogenitura ou sexo - apesar de historicamente sempre ter dado preferência aos homens - confirma-se cada vez mais como legítima guardiã das mais antigas tradições semíticas dos antigos Reinos de Judá e de Sabá.

Imperadores ágeis e guerreiros e Imperatrizes - título somente conferidos às filhas do Imperador que ascendiam ao Trono e não às Consortes Imperiais - firmes e dedicadas consolidam as instituições e fronteiras etíopes ou abissínias (nome também atribuído ao povo da "Tribo de Judá") até os nossos dias. Foram inúmeros os Ramos Imperiais que sucederam-se na Coroa , todos porém , sempre apoiados pela poderosa Igreja Copta (Culto Cristão Etíope e Norte-Africano).

Foi no século passado que a Etiópia começou a se abrir para o mundo e com isso , gerou a criação de uma infra-estrutura básica para o desenvolvimento sócio-político-econômico. Isso se deu mormente após a ascensão de um grande chefe de nome Kassa , que apesar de plebeu, era da raça de Salomão e, portanto aparentado com os Imperadores Gonderianos, seus antecessores.

Este homem foi a grande salvação da Etiópia contra o expansionismo muçulmano do Egito. Em 1855 , ele proclamou-se Imperador com o nome de Tewodros II (ou Teodoro) . Iniciou o processo de restauração das gloriosas construções de seus antecessores e não permitiu grande acesso dos exploradores estrangeiros em seu país. Estes , contudo - especificamente britânicos comandados por Sir Robert Napier - realizaram expedições investigativas , numa das quais capturaram o próprio Imperador que , sentindo-se coagido suicidou-se (1868).

Sucedeu-o Yohannes IV (ou João), esse sim proveniente da Família Real de Tigre (nordeste etíope) e um verdadeiro Rás (nome com que se designava a todos os membros das nobrezas reinantes na Etiópia). Subiu ao Trono em 1872 e prosseguiu a obra de seu predecessor , equipando o Império com Forças Armadas e estabelecendo a paz interna , principalmente com seu maior rival Sahle Mariam, Rás de Choa. Para isso, realizou inclusive a união dinástica de seu filho com a filha de Sahle, o que garantiria então, uma sucessão pacífica ao Trono.

Extremamente voltado para as questões religiosas, ele expandiu bastante o Cristianismo Ortodoxo, catequizando pagãos e até muçulmanos. Lutou bravamente contra os italianos e finalmente contra os mahadistas, africanos (sudaneses) fundamentalistas islâmicos, chegando a morrer na Batalha de Metemma (1889), quando da invasão do Sudão pelos Exércitos Imperiais.

Como era de se esperar, a Coroa passou para o Rás de Choa que, no mesmo ano, foi coroado sob o sugestivo nome de Menelik II. Este, quando ainda era uma criança, viu seu pai tombar e foi capturado durante um levante contra o Imperador, tendo sido capturado e levado ao Palácio de Tewodros, onde permaneceu como prisioneiro por dez anos. Nesse tempo, ele pôde observar as atitudes do Monarca quanto as metas de organizar e unificar os povos etíopes sob uma só autoridade e assim desenvolver o progresso nacional.

Após ter conseguido escapar, ele voltou a sua terra natal, encontrando-a num estado caótico, com revoltas para todos os lados contra o Poder Imperial, representado na ocasião por Bezebeh, o governador imposto ao povo de Choa em nome de Tewodros II. Então, com apenas 21 anos de idade, ele reúne suas forças, depõe o títere e se proclama Negus ("Rei") de Choa.

Três anos depois morre o Imperador e ele aspira o seu lugar; é derrotado porém por seu arquirival o Rás de Tigre, que assume o Trono como Yohannes IV, já citado. Em seu período de rivalidade com o Imperador, Sahle Mariam se aproxima dos italianos que, todavia interpretaram o artigo XVII do Tratado de Uccialli, concluído em 1889, como o estabelecimento de um Protetorado Italiano sobre a Etiópia.

Logo que assumiu o poder, tomando consciência da errônea interpretação dos italianos, ele renuncia ao tratado em 1893, o que provoca a guerra que duraria três anos. Em 1.3.1893, os italianos rendem-se aos etíopes (!) na Batalha de Ádua até hoje a mais famosa da África contemporânea.

A independência absoluta e a soberania do Império Etíope são então reconhecidas oficialmente pela Europa, o que a torna deste modo a única nação africana que não sofreu colonização.

Menelik II pode ser considerado o "Pai da Etiópia moderna". Ele criou ministérios governamentais; fundou escolas e centros de estudos; mandou instalar sistemas de correios e telégrafos e construiu inúmeras estradas e ferrovias , a principal delas ligando o Dijbouti à nova Capital Imperial por ele erguida: Addis Abeba. Esta cidade , cujo nome em amárico (principal idioma etíope) significa "Nova Flor" - em homenagem à esposa dele, Taitu, que mais tarde se tornaria Imperatriz na menoridade do neto - foi construída nos planaltos de Choa e inaugurada em 1887. O Palácio Imperial, as Academias Militares e as Igrejas deram magnificência a sua obra, que chegou a ser considerada a "Capital da África". Foi por essa razão que em nosso século, ela foi escolhida para sediar vários organismos internacionais daquele Continente.

Tendo adoecido gravemente em 1906, Menelik conseguiu assegurar ao seu neto , Lij Iyasu - Lij também é um título etíope para designar o filho de um príncipe - a herança do Trono. Por fim, em 1913, beirando os 70 anos - algo notório entre Monarcas africanos do século passado - seu fim se aproxima. Em 12 de dezembro desse ano, ele morre pranteado por seu povo.

Iyasu, apesar de Herdeiro por linha materna - sua mãe era a filha de Menelik - era também filho do Governante de Welo, tribo do povo Oromo, muçulmana antes da conversão por Yohannes IV, o que ocasionou uma certa antipatia na Nobreza, no Clero e no povo etíopes.
Para piorar ainda mais a situação, ele se declarou um seguidor de Maomé e filho de Alá, o que levou-lhe à deposição em 1916.

Os nobres de Choa instalaram no Trono a filha de Menelik, a Princesa Zawditu e colocaram o Rás Tafari Makonnen, Governante de Sidamo e Harar, como Regente e Herdeiro aparente à Coroa.

Tafari Makonnen pertencia à nobreza reinante de Choa: era bisneto do grande Rás Sahle Selassie, do qual também era neto o próprio Imperador Menelik, além de ser casado com a prima, a Princesa Wayzaro Menen, neta do último e sobrinha de Zawditu. Foi um homem dinâmico e objetivo, daí ser chamado de progressista, em vista de uma Monarquia que ainda tinha escravos em 1924!

Como Regente, suas principais ações foram: a entrada da Etiópia na Sociedade das Nações (SDN) em 1923; as visitas oficiais às capitais européias de Roma , Paris e Londres - foi o primeiro Monarca etíope a fazê-lo - e a abolição da escravatura em 1924. Em 1928 , ele adotou o título de Negus da Etiópia.

Em 2.4.1930, a Imperatriz Zawditu morre e ele é proclamado Imperador. Coroado em 2 de novembro do mesmo ano sob a titularidade de "Sua Majestade Imperial , Haile Selassie I , Rei dos Reis da Etiópia , Leão da Tribo de Judá e Eleito de Deus", ele faz desse ato a maior oportunidade para atrair a atenção do mundo ao seu País , contando de fato com a presença de incontáveis Chefes de Estados, Altos Dignitários e jornalistas do exterior, que espalharam seu nome aos quatro cantos da Terra. Seu nome de reinado, aliás, significa "Potência da Santíssima Trindade" e representou para seu povo a esperança em um futuro promissor, pois a miséria já era então avassaladora. Em 1931, ele aprova a Constituição de moldes ocidentais, limitando seus próprios poderes e estabelecendo um Parlamento e coisas do gênero.

Após a invasão do Império pela Itália em 1936 e do exílio da Família Imperial em Londres, durante cinco anos a Etiópia formou com a Somália e a Eritréia a chamada África Oriental Italiana, administrada pelo Duque de Aosta.

Em 1941, com o auxílio britânico, a Etiópia liberta-se da tutela italiana e Haile Selassie é recolocado no Poder. Iniciam-se amplas reformas políticas e sociais: o sistema judiciário é organizado e hierarquizado e o Código Penal, reconstituído (1942). Com a criação da ONU em 1945, a Etiópia passa a ser um dos países-membros. Em 1955 , uma nova Constituição é elaborada, segundo alguns historiadores, visando aumentar as prerrogativas do Imperador. Ele consegue fazer independente a Igreja Ortodoxa da Etiópia (Copta) do Patriarcado de Alexandria, no Egito, e institui um Patriarcado Etíope em 1959.

No ano seguinte , enquanto estava de visita oficial ao Brasil , há uma tentativa de golpe de estado , rapidamente esvaziada pelos militares leais à Monarquia. Ele retorna triunfalmente a Addis Abeba sob aclamação popular. Os problemas sociais agravam-se a cada dia devido às fomes e secas que atingem o Império. Foi justamente na mais terrível delas , em 1974 , que um bando de militares filo-marxistas depôs o idoso Monarca - já com 82 anos! - que não demonstra muita indignação , chegando mesmo a se conformar com a revolução por considerá-la benéfica ao povo! O Palácio Imperial foi declarado prisão domiciliar para ele e todos os Membros da Família Imperial. Seu filho e Herdeiro, o Príncipe Asfa Wossen, encontrava-se graças a Deus, em Genebra, Suíça, com esposa e filhos tratando-se de uma enfermidade.

Finalmente , em 27.8.1975 - data estabelecido pelo Governo Etíope - o Imperador encontra a morte, provavelmente por envenenamento.

Asfa Wossen é declarado Chefe de um governo provisório e Soberano Constitucional no exílio mas ele recusa-se a retornar à Etiópia e a república é proclamada em março de 1975. Esta viveu a maior parte do tempo sob o jugo do sanguinário General Mengistu, que nada conseguiu realizar para combater a miséria do país.

Em 17 de janeiro último, morre quase que em abandono o último Rei dos Reis da Etiópia, nos EE.UU. Mesmo que este termo - último - seja bastante flexível para aquela que é considerada uma das mais antigas Dinastias do mundo ligada, à Família do próprio Jesus Cristo...
O atual Chefe da Casa Imperial da Etiópia é S.A.I. o Príncipe Zara Yakob (*1960), residente na Inglaterra.

CURIOSIDADES

• O Título Imperial Etíope é composto das expressões Rei dos Reis, em amárico, da seguinte maneira: "Negusa Nagast". Ao coroar-se Imperador em 1930, Haile Selassie quebra uma tradição milenar elevando sua Esposa à mesma condição, ainda que Consorte, que ele. Nada mais justo, de fato, para a verdadeira Herdeira do Trono.

• Deve-se tecer algumas notas sobre o Rastafarianismo. Essa seita religiosa, também conhecia como "Movimento dos Rastafaris", foi fundada na Jamaica em 1953, alicerçada em crenças animistas africanas, tradições judaico-cristãs e, principalmente, no culto à pessoa e à personalidade do Imperador Haile Selassie I.
 
Nos seus primeiros anos, a seita foi bastante perseguida. No entanto, sua aceitação começou a crescer consideravelmente com a difusão das músicas de um de seus mais proeminentes membros, o cantor e compositor Bob Marley. Defensores do uso da maconha como "erva medicinal sagrada", os chamados Rastafaris distinguem-se por seus estranhos cabelos, com longas mechas, e de aspecto bem tenebroso. Seus seguidores crêem em "Jah", o Deus-Supremo e em Haile Selassie como uma espécie de seu enviado para governar todos os negros do mundo e, assim, encaminhá-los à soberania pujante dos outros povos! Atualmente, eles podem ser encontrados em todas as partes do planeta, pregando a redenção dos negros e expandindo a música reggae, vivendo em comunidades como a de Manchester, onde mora o Príncipe Zara Yakob.

 

IRÃ - Casa Pahlevi (ou Pahlavi)

 
A atual Dinastia Persa ou Iraniana - o nome Irã (Iran, em farsi, o idioma persa) foi escolhido pelo Xá Reza em 1935, por se tratar de uma evocação ainda muito mais antiga do que "Pérsia", para o povo iraniano; a expressão remonta à época de Ciro o Grande e significa "Terra dos Arianos". Foi com o nome de Irã, que o Xá Mohammad Reza comemorou em 1971 os 2500 anos do Império Persa - é a Casa Pahlevi (ou Pahlavi).

Sabe-se que os Pahlevi formavam um clã de chefes - daí o título de Khan, que em Árabe significa Senhor ou Nobre, embora atualmente seja utilizado em grande escala como simples sobrenome, não foi esse o caso da Dinastia Iraniana - provenientes da província de Mazanderan.

Parece que o Xá Reza teve antepassados cossacos, já que foi com treinadores Russos que ele desenvolveu seus dons militares em Teerã, sob instrução de sua mãe que havia deixado a terra natal após a morte de seu pai.

Reza Khan era patriota e nacionalista; suas ações desde muito jovem demostravam uma grande inclinação para governar ou conduzir o povo. Tendo acompanhado de perto o processo destrutivo em que encontrava-se sua nação, ele foi um dos mentores da oposição ao arcaísmo da administração dos Xás da Dinastia Qajar, estabelecida no Trono em 1779. Seu último representante, o Xá Ahmed (ou Ahmad Shah), jovem e incompetente observava estagnado o declínio de seu país envolto num caos de corrupção no governo e influência estrangeira inaceitável. Ele porém nada conseguia fazer contra aquela situação, a não ser apoiar-se cada vez mais em britânicos e russos.

Em 1921, Reza Khan, já como general, não suportando mais a desordem nacional, decide dar um golpe de estado, apoiado por todas as Forças Armadas, a intelectualidade e o povo para depor o ministério corrupto e estabelecer um nacionalista. O jornalista Sayyd Zia od-Din tornou-se Primeiro-Ministro e ele, Ministro da Guerra . Muitos imaginavam que aceitando favores do Xá, ele perderia seu furor patriótico e não defenderia mais a independência total da Pérsia. O que ocorreu foi bem o contrário, com seu poder sendo fortalecido a cada dia, inibindo assim a influência retardatária do débil Xá Ahmed. Em 1923 tornou-se, Primeiro-Ministro.

Em 1925, quando estava em pleno processo de negociação com o Majles (Parlamento Persa), o Xá recusou-se a retornar da Europa, para onde tinha viajado em tratamento de saúde. Reza Khan chegou a considerar a proclamação de uma república, mas foi persuadido pelo Majles, que declarou Ahmed deposto e o investiu no Trono e na Coroa, aos quais ele aceitou como fardo.

Ele foi coroado Reza Shah Pahlavi (ou Xá Reza I, no estilo ocidental) em abril de 1926 e continuou as reformas radicais de modernização, quebrando o poder e desarmando as tribos revoltosas; estabelecendo inúmeros acordos internacionais com as grandes potências; construiu a estrada Trans-Iraniana, passando pelas principais cidades; além de centenas de escolas, hospitais e rodovias. Ele também fez com que fossem abolidos vários dos antigos privilégios sociais, além de permitir a emancipação da mulher, desobrigando-as do uso do véu e favorecendo-as em processos de divórcios.

Enfim, estruturou suficientemente sua Nação para que seu filho e herdeiro Mohammad Reza a recebesse um dia sem os problemas que ele encontrou. A II Guerra Mundial mudou radicalmente seus planos, em virtude da aproximação da Grã-Bretanha com a ex-União Soviética na luta contra a Alemanha. Acusado de pró-nazista, o Xá decidiu abdicar em setembro de 1941, um mês após a invasão do Irã pelas forças anglo-soviéticas, que tornaram o país um canal de passagem das armas norte-americanas. Em 26.7.1944, ele morreu no exílio em Joanesburgo (África do Sul).

S.M.I. Mohammad Reza Shah Pahlavi (ou Xá Mohammad Reza I), Imperador (ou Rei dos Reis) do Irã, Sombra de Deus e Luz dos Arianos - essa era a sua titularidade oficial - nasceu em 1919 em Teerã. Era o filho mais velho do então General Reza Khan Pahlavi e de sua Esposa, Tadj el Muluk. Em 1925, aos seis anos, foi declarado Herdeiro do Trono e desde então recebeu esmerada educação, tendo sido enviado dois anos depois à Suíça, de onde só retornou em 1935. Com o exílio de seu pai em 1941, assumiu o Império tentando de início equilibrar as forças das potências estrangeiras com as oposições internas.

Nos anos 50, ocorreram sérias crises no governo devido aos desentendimentos entre o Xá e seu primeiro-ministro, Mohammad Mosadeq, um fanático nacionalista que tinha intenção de nacionalizar o petróleo explorado pelas companhias anglo-iranianas. Em agosto de 1953, o Xá foi deposto por seguidores de Mosadeq e deixou o país, retornando alguns meses depois, provavelmente com o auxílio dos americanos - povo que, aliás, empreendeu daí por diante amplas reformas modernizantes, reconstruindo estradas e ferrovias, implementando novas tecnologias, enfim literalmente transformando o Irã num país do séc. XX.

O Xá Mohammad Reza casou-se pela primeira vez, em 1939, com S.A.R. Fawzia Mohamed-Ali, Princesa do Egito, filha do Rei Fuad I. Dessa união, mais tarde dissolvida por divórcio e anulação religiosa, nasceu a Princesa Shannaz (1940). Em 1952, ele desposou a bela e jovem Soraya Esfandiari-Bakhtiari, filha do Embaixador do Irã em Londres. Durante seis anos de uma união apaixonada, só faltou uma coisa, o principal: um filho para herdar o trono de uma das Monarquias mais milenares do mundo. Ambas, Fawzia e Soraya, falharam nesse quesito, não conseguindo ser mais que "Altezas Imperiais" e Princesas Consortes.

A felicidade parece só ter chegado a este homem de desprendimento, objetividade e noções de civismo e missão histórica invejáveis, em 1960, com o nascimento de seu primeiro filho, o Príncipe Reza Cyrus, cuja mãe, Farah Diba, havia sido desposada pelo Xá no ano anterior. Seguiram-se a Princesa Farahnaz (1963), o Príncipe Ali Reza (1966) e a caçula Princesa Leila (1970).

Ao contrário de suas antecessoras, Farah Diba, recebeu todas as honrarias que uma Nação islâmica pode oferecer a uma Consorte. Em 1967, o Xá providenciou uma cerimônia de Coroação para ela, que se tornou então "S.M.I. Farah Pahlavi, Xabanu ("Imperatriz") do Irã".

Com a deposição do Xá e a proclamação da república em janeiro de 1979 pelas forças do exaltado sacerdote fundamentalista islâmico Aiatolá Ruhollah al Khomeini, a Família Imperial é exilada.

Após migrar para Egito, Marrocos, Bahamas e México, eles finalmente se instalaram nos Estados Unidos em outubro, onde o Imperador iniciou seu tratamento de câncer linfático. Duas semanas a seguir, o mundo fica chocado ao saber que os iranianos invadiram a Embaixada dos EE.UU. em Teerã, fazendo reféns aos diplomatas com exigência de extradição do Xá, para que volte e seja julgado - leia-se condenado à morte.

Tendo em vista tais fatos, a Família do Xá retornou ao Cairo, onde o Presidente Anwar-as-Sadat lhe garantiu asilo político. Foi nessa cidade que, em 27.7.1980, Mohammad Reza Shah Pahlavi faleceu, recebendo as exéquias com honras de Chefe de Estado do Governo Egípcio.

A viúva, agora já Imperatriz-Mãe, segundo os monarquistas exilados e os súditos fiéis, decidiu residir com os seus na França, onde tinha um grande círculo de amizades. Criou com dignidade seus filhos, dentro dos preceitos religiosos que, para a Família Imperial Iraniana são os corretos, ou seja, os da Fé Islâmica e no respeito às instituições sagradas do Irã.

Em 1986, o Chefe da Casa Imperial, o Príncipe Senhor Reza Cyrus (ou Xá Reza II) - que é piloto da Força Aérea Americana e vive nos EE.UU. - desposou uma jovem iraniana de nome Yasmine Etemade Amini (*1963). Ele ainda não tem herdeiro masculino, pois sua Esposa deu à luz somente duas Princesinhas de nomes Nur (*1992) e Iman (*1993); já declarou diversas vezes que voltará ao Irã para restaurar uma Monarquia "à espanhola".

CURIOSIDADE
• Dá-se a dignidade Imperial ao Xá do Irã (da Dinastia Pahlavi) devido à tradução mais correta do original persa "Shahanshah" (Rei dos Reis) - cuja forma aportuguesada Xainxá não foi muito utilizada e aceita pelos estudiosos do tema -, muito semelhante ao caso da Etiópia. O título que Mohammad Reza criou para sua Esposa Farah Diba é sui generis, ou seja, inexistia anteriormente. Xabanu ("Shabana") seria então uma espécie de gênero feminino de Shahanshah. Porém, é bom que se observe ser um título exclusivo para a Consorte e não para uma Monarca Reinante que, como é universalmente sabido, não existe entre muçulmanos. Xabanu significa certamente a "Mulher do Rei dos Reis" e não a "Rainha das Rainhas", como pensam alguns.



NEPAL -
Casa Shah (ou Sah)

 
A Dinastia do Nepal, também chamada de Dinastia Gurkha, por causa do nome da cidade que a originou, remonta ao séc. XIV e está intimamente ligada à história do Reino de Lamjung. O filho de um de seus Reis, o Príncipe Drabya Shah ocupou Gurkha (ou Gorkha), em 1559, estabelecendo aí seu próprio Reinado e inaugurando nova Dinastia.
Seu descendente, o Rajá Prithvi Narayan Shah (1720-1775), que havia criado uma guarda poderosa e apelidado-a de "ghurkhas", objetivando alcançar através das guerras a unificação dos povos nepaleses, então divididos entre vários Principados, sob uma só Coroa - os ghurkhas ainda existem até hoje, como parte importante de Forças Armadas estrangeiras (Brunei, Hong Kong e Reino Unido), tradição iniciada pela colonização inglesa nas Índias. Eles são mercenários (no sentido original da palavra), aos serviços de Sua Majestade, mesmo que seja a Britânica Elizabeth II ou o Bruneiano Sultão Hassanal Bolkiah...

Prithvi Narayan conquistou as Monarquias nepalesas (Kathmandu, Patan e Bhadgaon) da Dinastia Malla, que era budista, em 1769, fazendo da primeira a capital do novo Reino unificado, batizado de Nepal. Nessa época, seus domínios estendiam-se por uma área duas vezes maior do que o atual Nepal, englobando Sikkim, Kumau, Simla e parte do Tibet.
O Filho e sucessor de Prithvi Narayan, o Rei Pratap Singh Shah (?-1777) só governou por dois anos, dando chance à inauguração de regências - seus dois filhos que ascenderam ao Trono em períodos alternados, o fizeram quando ainda menores - que perdurariam por muitos séculos...

Primeiramente a família Thapa (1806-1837) e depois a família Rana (1846-1951) conseguiram governar ditatorialmente o Reino do Nepal, isolando-o do mundo exterior e fazendo dos Reis seus virtuais prisioneiros.

A conquista da Índia pelos britânicos também conduziu o Nepal ao estado de Protetorado. A retirada dos ingleses e a independência do Império em 1947 levaram os Rana a suplicar ajuda externa. O povo quase rebelou-se, levando os nobres a apoiar as decisões do Rei Thibhuvan, de depor os Rana e restaurar o poder da Casa Real, em novembro de 1850. Com o apoio dos indianos, a situação normalizou-se e houve a formação de um parlamento, liderado pelo Partido Congressista Nepalês. No início da revolução, pensou-se em fazer do pequeno Príncipe Gyamendra (3 anos), filho do Príncipe Herdeiro Mahendra, o novo Rei mas logo depois, em 1955, Thibhuvan morreu e seu filho o sucedeu.

Em 1959, a Constituição foi aprovada repleta de aspirações democráticas. Contudo, em 1962, considerando as divergências existentes entre as relações políticas, o Rei Mahendra dissolve o Parlamento e decide governar com amplos poderes até sua morte em 1972.

Seu primogênito, o Príncipe Herdeiro Birendra, o sucede sendo coroado três anos mais tarde, mantendo o mesmo estado político anterior. O Rei Birendra Bir Bikram Shah Dev (*1945) é casado desde 1970 com a Rainha Aishwarya; têm três filhos, o Príncipe Herdeiro Dipendra (*1972), o Príncipe Nirayan (*1975) e a Princesa Sruti (*1976). Todos os membros da Casa Real devem praticar o Hinduísmo - observe-se que Sidartha Gauthama, o Buda, nasceu no Nepal!

Em 1980, o Rei decide restabelecer a Constituição de 62 e inicia o processo de redemocratização do país. Em 1990 uma coalizão de centro- esquerdistas exige reformas políticas básicas, e o pluripartidarismo é permitido. No ano seguinte, as eleições gerais dão maioria aos congressistas e o Presidente do Partido assume o cargo de Primeiro Ministro. Em 1994, os comunistas vencem as eleições parlamentares e o Rei nomeia seu líder Mohan Adhikary como Primeiro Ministro; este renuncia no ano seguinte.

Em dezembro de 1995, a Nação comemora jubilosamente os 50 anos do Rei. No ano corrente, comemorar-se-ão seus 25 anos de Reinado.


TONGA - Casa Tupou

 
A Dinastia Real de Tonga é, na verdade, a Tui Kanokupolu, um ramo da Dinastia Tui Haatakalaua, esta por sua vez, um ramo da Dinastia Tui Tonga, existente, segundo a lenda polinésia, desde o séc. X d.C. As duas primeiras foram criadas para que seus Monarcas fossem governantes temporais (0"Hau"), já que o Rei Tui Tonga era divino, descendente direto do Grande Criador Tongaloa, na religião primitiva desse povo insular - provavelmente de origem asiática.

Os Tui Tonga dominaram quase toda a Polinésia, no séc. XIII, incluindo os atuais arquipélagos de Fiji, Futuna, Samoa, Tokelau e Niue. O aumento gigantesco dos limites de Tonga prejudicaram o controle sobre seus novos súditos e territórios, daí a necessidade da criação das Dinastias Haatakalaua e Kanokupolu.

Com as sucessivas guerras e uma série de assassinatos dos Tui Tonga, o poder das Dinastias enfraqueceu-se em demasia. Entre 1790 e 1850, por exemplo, as guerras civis dizimaram grandes populações tonganesas.

Em 1616, chegaram a Tonga os primeiros europeus; holandeses liderados por Jakob Maire e Abel Tasman. O Capitão James Cook chegou em 1773 e apelidou-a de Friendly Islands, em virtude da hospitalidade dos nativos. Os missionários metodistas iniciaram sua catequização em 1797, seguidos por católicos e outros protestantes - atualmente o Rei e a Família Real pertencem oficialmente à Igreja Metodista, comunidade cristã majoritária, sendo dado ao Soberano inclusive o direito de escolher, como já ocorreu várias vezes, o Presidente mundial desta instituição.

Em 1831, os metodistas converteram o Príncipe guerreiro Taufaahau ao Cristianismo, recebendo o nome de batismo de George, em homenagem ao Rei da Inglaterra. Seu povo seguiu-o imediatamente e, em 1845 ele se tornou o décimo-nono Tui Kanokupolu, coroando-se sob o título ocidental de "Sua Majestade George Tupou I, Rei de Tonga". Durante seu longo reinado (1845-1893), Tonga tornou-se uma Nação independente e unificada, chegando a ganhar uma Constituição, vigente até os dias de hoje, em 1875. Em períodos diferentes, as grandes potências - Alemanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos - reconheceram sua soberania, transformando-o no único país oceânico que não sofreu colonização.

Em 1900, já no reinado de George Tupou II, bisneto do precedente, o Reino Unido declara um semi-protetorado, no sentido de representar diplomaticamente e vetar as políticas externas tonganesas, nada porém próximo da tutela britânica em suas colônias.

Tupou II foi sucedido após a morte, em 1918, por sua neta, a carismática Rainha Salote Tupou III. Esta Monarca, ainda venerada pelos súditos, implementou metas de governo que levassem seu país ao séc. XX. Erradicou o analfabetismo, construiu escolas e hospitais - com ajuda das Igrejas - inaugurou estradas, além de findar com muitas endemias. Quando da Coroação da Rainha Elizabeth II, em 1952, os Membros da Realeza Européia ficaram atônitos ao conhecê-la; educada, culta e charmosa, esta Rainha encantou a todos.

Morreu em 1965, na Nova Zelândia, sendo sucedida por seu primogênito, o Príncipe Tungi, que assumiu o Trono como Rei Taufaahau Tupou IV. Cinco anos depois, o Reino recuperou sua autonomia absoluta, entrando para a Commonwealth.

Em 1993, o Rei inaugurou o Aeroporto Internacional Fuamotu e instituiu a companhia aérea nacional Royal Tongan Airlines. Neste mesmo ano, o povo de Tonga celebrou festivamente os 75 anos de seu Rei e em 1995, seus 30 anos de reinado.

 
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BIBLIOGRAFIA

· Encyclopaedia Britannica, 1993
· Almanaque Abril, 1993, 1994 & 1995
· Livro do Ano Barsa, 1993, 1994, 1995 & 1996
· Grande Enciclopédia Delta Larousse, 1971
· Point de Vue (semanário francês), 1992, 1994, 1995, 1996 & 1997
· Coleção Sra. Alda de São Thiago Ribeiro