sábado, 5 de abril de 1997

República na Etiópia: um mau negócio


Até 1974, a mais antiga e uma das maiores Nações do Continente Africano era conhecida como Império da Etiópia. Localizado no chamado Chifre da África, este país constituía, sob vários aspectos, um fenômeno. Em meio às guerras sangrentas entre povos irmãos, fanatizados por religiões ou ideologias opostas, revoltas eclodindo em todos os cantos e até mesmo uma política oficial de segregação racial - o tristemente famoso apartheid - a Etiópia manteve-se como modelo político no séc. XX, gozando de considerável estabilidade e prosperidade.

Sua estrutura governamental (Monarquia temperada com elementos aristocráticos e democráticos) se aproximava muito dos moldes ocidentais, particularmente do britânico, ainda que, naturalmente, adequada ao tradicional estilo africano, isto é, resguardando a Autoridade Suprema da Nação à pessoa sacral e quase divina do Imperador. De qualquer forma, foi graças a esse governo que ela sobreviveu razoavelmente bem em nossos tão conturbados dias.

Sem sombra de dúvidas, deve-se muito deste progresso à figura de Haile Selassie I (1892-1975), o Governante que imperou na Etiópia de 1916 ao golpe militar de 1974. Foi ele quem prosseguiu a obra grandiosa de Menelik II (1844-1913), considerado o Pai da Etiópia moderna, garantindo ao povo da Tribo de Judá o mínimo aceitável de condições de vida. Atos como: a entrada do país na Sociedade das Nações (SDN) em 1923; a abolição da escravatura, em 1924 - acreditem, lá ainda existiam escravos até essa data (!) - a organização e hierarquização do sistema judiciário, em 1941 e a reconstituição do Código Penal no ano seguinte; a participação na fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1955 e a independência da Igreja Cristã Ortodoxa Etíope, em 1959, etc., representavam para ele a realização de seus conceitos básicos de desenvolvimento nacional.

Infelizmente, a Etiópia é bastante desprovida de recursos naturais, devido ao clima exageradamente quente, o que vem ocasionando secas avassaladoras e, consequentemente, a fome da população mais carente, desde os seus primórdios. O Imperador Haile Selassie tentava de todas as formas proteger seu povo dessas catástrofes, através de incentivos ao investimento de capitais estrangeiros e acordos internacionais de ajuda com vários países europeus. Era para isso que serviam suas viagens - tão injustamente criticadas como desnecessárias - ao exterior e convites aos Chefes de Estado para comemorações e festividades promovidas na faustosa capital do Império, Addis Abeba.

Os anos foram passando e as secas... se agravando. Na pior delas, em 1974, um bando de exaltados militares marxistas que, diga-se de passagem, eram minoria na tropa, depôs o idoso e já adoentado Monarca, então aos 82 anos!!! Este, na esperança ingênua de se tratar de uma revolução que salvaguardaria a população, resignou-se com a situação, ao ponto de implorar aos militares e súditos fiéis que não iniciassem uma contra-revolução - episódio que confirmou ao mundo sua fama de Soberano piedoso e, por vezes, bonachão. Feito prisioneiro domiciliar com todos os Membros da Família Imperial que residiam no Palácio, ele morreu no ano seguinte, provavelmente envenenado pelos ditadores instalados no governo, que trataram logo de proclamar uma república popular.

Após a ascensão do sanguinário General Mengistu ao poder, a Etiópia sofreu duros golpes, como o embargo econômico internacional imposto pelas grandes potências, além das fomes gigantescas, como a de 1983/1984, que chegou até a gerar a campanha assistencial USA for Africa, liderada pelo cantor afro-americano Michael Jackson.

Presentemente, o país vive uma situação de estagnação social, política e econômica. Quanto à Família Imperial - que, segundo a lenda etíope, é uma das Dinastias mais milenares do planeta, proveniente de uma hipotética união do Rei Salomão com a Rainha de Sabá - sabe-se que o filho e herdeiro de Haile Selassie I, o Príncipe Asfa Wossen (*1916 †1997) morreu em 17 de janeiro último, em Virgínia, EE.UU. Seu primogênito, S.A.I. Zara Yakob (*1960) é então o atual Chefe da Casa Imperial da Etiópia. Ele vive em Manchester, Inglaterra, numa comunidade de Rastafaris.

VALE PERGUNTAR: O que fez a república pela Etiópia? De que adiantou aqueles opositores ao regime "arcaico" destituírem o Imperador?
Muito pelo contrário, nós, monarquistas, pensamos que o povo etíope, bem como centenas de outros asiáticos e africanos despojados de seus Símbolos Vivos, agora não padecem somente de fome fisiológica mas também e principalmente de fome psicológica, a mais nociva e fatal...