terça-feira, 5 de maio de 1998

Os Biron de Curlândia


A Curlândia (forma aport. do original letão Kurzeme) é uma região da Europa, na costa do Mar Báltico e limitada pelo Rio Dvina, cujo povo tem origens nacionais ancestrais datando do séc. IX, quando estabeleceu-se a primeira Monarquia (ou Aristocracia?) tribal dos curos (grupo fino-úgrico).

Em 1237, os Cavaleiros Lituanos da Ordem Teutônica - também conhecidos como Cavaleiros do Gládio -, conquistaram as terras dos curos, através de uma pequena cruzada. Em 1230, o Rei dos Curos, Lamikis, decidiu aceitar o Cristianismo, foi batizado e tornou-se vassalo imediato do Poder Papal. Os Cavaleiros, no entanto, por ordem do Bispo de Curlândia, tomaram possessão nominal sobre o País, impedindo o Rei de receber a coroa das mãos do Papa.

Em 1269, eles instituíram um feudo definitivo nas terras curas, que perdurou pelos próximos trezentos anos. No ano de 1561, os Cavaleiros Lituanos dissolveram a Ordem e agruparam a Curlândia e a Semigallia num Estado denominado Ducado de Curlândia. Seu trono foi entregue ao último Grão-Mestre da Ordem, o Cavaleiro Gotthard Kettler, iniciador da Dinastia que governaria o povo curo até o séc. XVIII.

Os Kettler - que, lembremos, são de origem germânica - desenvolveram o País, legando-lhe uma aura de prestígio que já incomodava a Rússia expansionista; não foi outra a razão de sua suserania à Polônia dos Jagellon, e, posteriormente, dos Wettin, desde a formação do Ducado. No séc. XVII, o Duque Jakob III (*1610 †1682) - casado com a Princesa Louise Charlotte de Hohenzollern (*1617 †1676), Princesa de Brandeburgo -, cujo reinado se estendeu de 1640 a 1682, fez florescer no País o progresso econômico e cultural; ampliou e modernizou a Marinha e incentivou a criação de inúmeras instituições cívicas. Chegou mesmo a tentar o estabelecimento de colônias nas Índias (Tobago) e na África (Gâmbia).

O declínio iniciou-se, porém, já no reinado de Jakob, quando, em 1658, a Suécia em guerra com a Polônia, invadiu e tomou a Capital Nacional, Ielgava (Mitau) e seqüestrou o Duque. Ao retornar, dois anos mais tarde, seu Ducado já era outro, bastante deteriorado. Seus sucessores continuaram a manter um pouco da glória passada, através de algumas honrosas uniões dinásticas, como a do Duque Friedrich Wilhelm (*1692 †1711), em 1710, com a filha do Czar Ivan V da Rússia (†1696), Anna, que ascenderia ao Trono russo, no futuro, por ocasião da morte de seu primo-sobrinho, Pedro II (*1715 †1730), o neto e sucessor de Pedro (Piotr) o Grande (*1672 †1725).

O último Duque de Curlândia da Dinastia Kettler faleceu em 1737. Por recomendação da então Imperatriz Anna da Rússia (*1693 †1740), elegeu-se o Conde Ernst Johann de Biron (*1690 †1772), seu favorito, (nascido na Curlândia, como Ernst-Johann Bühren, plebeu de origem alemã, cuja família emigrou em 1573), para ocupar o Trono Ducal.
Biron era um aventureiro que, após seduzir a sua Duquesa e posterior Imperatriz, conseguiu realizar todos os planos megalômanos imagináveis a um sem-berço, no que pode-se perfeitamente chamar de aspirações bonapartistas. De tal forma sua influência foi exercida na Rússia após a ascensão de Anna, que este período histórico costuma ser chamado de BIRONOVSCHINA.

Neto de um cavalariço do Duque Jakob, Biron estudou na Academia Militar de Königsberg e depois de ter sido expulso por má conduta e torrado suas economias na Rússia, retornou a Mitau, onde foi apresentado à Duquesa, Anna Ivannovna... Tornou-se seu amante e Conselheiro-Chefe em 1727.

Três anos a seguir, ele obteve do Sacro Império o título de Reichsgraf (Conde) e o Senhorio de Wattenberg, na Silésia. Ao subir Anna ao Trono da Rússia, no mesmo ano, ele, apesar de casado com Fräulein B. G. Trotta von Treiden, não hesitou em acompanhar a Imperatriz e iniciar seu verdadeiro "reinado" no Império dos Romanov.

Não podendo dispor de cargos administrativos oficiais por ser estrangeiro, Biron foi, no entanto agraciado com o título de Chanceler da Corte Imperial e recebeu o Estado vassalo de Wenden (atual Cesis) na Letônia. Foi o grande líder e incentivador do grupo germanófilo que dominou a Corte de Anna, desprezando a pequena Nobreza russa que, portanto, lhe dedicou ódio mortal.

Tornado Duque de Curlândia em 1737 e nomeado Regente do Império, em 1740, na menoridade do Czar Ivan VI (*1740 †1764), Imperador por um ano, sobrinho-neto de Anna e, na realidade, Príncipe de Brunswick-Wolffenbüttel - "O Trono da Rússia não é herdado, é possuído..." - o que seria, no futuro, assassinado sob as ordens de Catarina (Yekaterina) a Grande (*1729 †1796), Biron não chegou a praticar essas funções, visto que foi capturado pelo arqui-inimigo, o Conde Burkhard de Münnich, que o exilou na Sibéria. Tendo de lá escapado em 1742, ele se instalou em Yarolslav; vinte anos depois, foi anistiado e reentrou na Corte russa, por orientação de Catarina II. Esta o restaurou em Curlândia, com a força das tropas, em 1763. O País havia sido, na sua ausência, governado pelo Príncipe Karl da Saxônia (*1733 †1796), filho de Friedrich August II (*1696 †1763), Eleitor da Saxônia e III como Rei da Polônia.

Em 1769, o Duque Ernst Johann abdicou em favor de seu filho, o Duque Peter; este, por sua vez, cedeu o Ducado à Rússia, finalmente, em 1795.
 
A Família Ducal da Curlândia - cujos Membros têm sido protestantes ou católicos, conforme considerações pessoais - é conhecida sob o nome de BIRON DE CURLÂNDIA (em Fr. Biron de Courlande, em Al. Biron von Kurland) e seus títulos eram reconhecidos pelo Almanach de Gotha e o são pelo atual Genealogisches Handbüch des Adels, como parte das Realezas da Rússia e da Prússia.

O atual Chefe da Casa Biron de Curlândia é S.A.S. o Príncipe Senhor Ernst Johann (*1940), filho de S.A.S. o Príncipe Senhor Karl (*1907 †1982), e de S.A.R.S. a Princesa Herzeleide da Prússia (*1918 †1989), Princesa de Hohenzollern.

O Príncipe Karl era filho de S.A.S. o Príncipe Gustav Biron de Curlândia (*1859 †1941) e de S.E. a Nobre Françoise de Jaucourt (*1874 †1956); a falecida Princesa Herzeleide era filha de S.A.R.S. o Príncipe Oskar da Prússia (*1888 †1958) e de S.E. a Condessa Ina Maria de Bassewitz (*1888 †1973), sendo uma neta do Kaiser Wilhelm II (*1859 †1941).

Ernst Johann, Príncipe Biron de Curlândia, é casado, desde 1967, com a Condessa principesca Elisabeth de Ysenburg-Philippseich (*1941); eles não têm filhos e, por isso, adotaram duas meninas. A sucessão recairá, no futuro em seus sobrinhos, filhos do Príncipe Michaël (*1944).
 
O lema da Casa Biron de Curlândia é: Croyez Biron constant dans l'infortune.