Quo res cumque cadunt semper stat linea recta.
Lema dos Príncipes de Ligne.
Conheci D. Pedro Luiz em junho de 1996, em coquetel na Câmara Municipal do Rio de Janeiro que encerrava o dia de homenagens pelo aniversário de seu tio, D. Luiz. Os natalícios do imperador de jure do Brasil são sempre comemorados com Missa Solene no Outeiro da Glória, almoço festivo e, antigamente, uma sessão do Legislativo carioca que o Vereador Wilson Leite Passos organizava.
Ele me pareceu o que era: menino tímido em excesso, mas com um olhar sério e benfazejo. Cumprimentou-me, como a tantos e tantos jovens monarquistas que o tinham por príncipe-herdeiro, de maneira cordialíssima e, por ser eu tão pouco mais velho — só 4 anos —, creio que se impressionou desde o início com a devoção que eu demonstrava ao que ele representava. O que ele representava? O Brasil.
Sendo eu verdadeiro cultor de História e de Genealogia desde pequeno, conhecia muito bem todos os antepassados de D. Pedro Luiz e falava deles com desenvoltura; sem usar de falsa modéstia, o que deploro — dizia Jean de La Bruyère que a falsa modéstia é o último requinte da vaidade —, posso imaginar que eu representei para o pequeno príncipe brasileiro um conhecimento impressionante para um garoto de 17 anos e isso fez com que ele me respeitasse desde o princípio. Tornei-me um próximo da família dele por causa de Prof. Otto de Sá Pereira, atual conselheiro-decano do IDII que havia sido assessor-chefe de D. Pedro Henrique (1909-1981), o neto e sucessor de D. Isabel (1846-1921).
Em 1997, organizei praticamente sozinho uma visita oficial dos Príncipes do Brasil a minha terra natal, a Imperial Cidade de Nichteroy; foram D. Luiz, que recebeu o Título de Cidadão Niteroiense, e os pais de D. Pedro Luiz, D. Antonio e D. Christine. Adolescente idealista e patriota, dediquei-me dali em diante com garbo ao monarquismo brasileiro, sempre idealizando com meu amigo Luis Afonso Queiroz, designer, dezenas de materiais gráficos exaltando os feitos e fatos da presença dos Bragança entre nós.
Iniciei minha graduação na PUC-Rio em março de 1999 e já servia honorariamente, também com muito orgulho, à Princesa Mãe do Brasil como seu secretário, desde meses antes. D. Maria da Baviera é a viúva de D. Pedro Henrique e mãe de 12 filhos, avó de quase 30 netos e bisavó já de alguns. O falecido Bispo de Petrópolis, D. José Carlos de Lima Vaz (1928-2008), dizia que ela fora, para a sociedade de seu tempo, um exemplo de “mulher do Evangelho”, ou seja, aquela que em vida de orações e provações, passa incólume por todos os obstáculos que a peregrinação terrestre impõe. D. Pedro e D. Maria representaram para os membros das aristocracias do Rio de Janeiro, de São Paulo ou do Paraná — onde viveram nos anos 1950 e princípios dos 1960 —, uma realeza desapegada das coisas comuns e sempre voltada às “coisas do Alto”. D. Maria é autora, só para que se tenha uma ideia, de uma catequese popular, Miche de Pain (“Pedaço de Pão”), com a qual ela lecionava para os funcionários de sua fazenda em Jacarezinho (PR).
Convivi com D. Pedro Luiz, fosse em Petrópolis, onde “ensinava” História do Brasil a ele e seus irmãos, ressaltando a heroicidade e a humanidade dos monarcas brasileiros e europeus dos quais descendiam, fosse no Rio de Janeiro, onde ele sempre estava com seus pais e onde depois passou a morar. Não éramos amigos, de forma alguma, até pela diferença de idade, mas pode-se dizer que nos conhecíamos bem. Eu por meu lado sempre mantendo uma distância respeitosa com aquele que era o meu futuro Imperador e ele sempre muito cordato e gentil, verdadeiramente principesco. Não é de dizer-se que não possuísse defeitos, pois é evidente que necessitava deles para ser um membro da espécie humana, mas é certo que suas qualidades transpareciam muito mais.
Uma coisa desde cedo ficou clara para mim: D. Pedro Luiz era o herdeiro do Brasil. Aquele Brasil que D. Pedro I e D. Leopoldina construíram com suas vidas e dedicações; D. Pedro II e D. Thereza Christina com suas obras educacionais e culturais e D. Isabel e D. Gastão com seu abolicionismo redentor. Aquele a quem eu enxergava como um futuro D. Pedro IV — em homenagem ao seu avô, que teria sido D. Pedro III — ou D. Pedro Luiz I, era um “menino boníssimo”, como sempre o definem tios, tias e parentes em geral. Recordo que D. Maria, com seu sotaque singular, sempre falava dele com um prazer enorme, ressaltando que sua inteligência, amor à família, afeição aos esportes, faziam dele um “queridinho” de várias Famílias reinantes e ex-reinantes da Europa: Luxemburgo, Bélgica, Áustria, Liechtenstein etc.
Esse menino esplêndido virou homem, um homem de Deus. Era jovem como todos os outros, mas também sabia ser seriíssimo. Pretendia se casar dentro dos costumes da antiga tradição capetíngia, francesa, portuguesa e brasileira por continuidade dinástica: os enlaces com égalité de naissance, tão fora de moda nos dias turbulentos e ignaros em que vivemos. Com menos de 18 anos, concluí um trabalho histórico-genealógico justamente sobre a linhagem materna de D. Pedro Luiz, a Casa de Ligne, oferecendo-o a D. Christine — que, juntamente com sua cunhada, a Princesa D. Maria da Graça, são das senhoras mais finas que já conheci em minha vida... Ali eu explicito que os Ligne possuem Ebenbürtgkeit com todas as casas da alta e da média realeza europeia, pois ainda que tenham perdido a mediatização que o Congresso de Viena concedeu aos desapossados de Napoléon Bonaparte em 1815, são a família principesca belga por excelência, senhores indiscutíveis da história do Hainaut por mais de 8 séculos.
D. Pedro Luiz, o desejado, o esperado, o amado, o querido, o estimado, voltou para junto do Todo-Poderoso em pleno céu do Oceano Atlântico. Quanto simbolismo, quanta significação teológica! Qualquer indício de sebastianismo aqui não é mera coincidência: Gilberto Freyre dizia que acreditar em D. Sebastião não é errado, apesar de isso não resolver nossos problemas — um amigo meu sempre mo lembrava. Contudo, o que dizer da discrepância existente entre a política brasileira atual e aquela conduzida pelo magnânimo tetravô de D. Pedro Luiz, tão bem elucidada em livro recente de José Murilo de Carvalho?
Repugnando veementemente o pensamento e a conduta dos pessimistas ou sordidamente adesistas que dizem ser a corrupção governamental uma sina irremediável e insuperável de nosso País, continuo a crer em um Brasil restaurado em sua decência. Parece óbvio que não há perspectiva de restaurar-se o Estado Monárquico brasileiro nos próximos anos, o que não é sinônimo de deliberar que isto seja impossível; em contrapartida, advogar que o Poder Moderador exista entre as instituições jurídicas da Res Publica e que possamos lançar mão deste remédio constitucional é um dever cívico de todos nós!
Em abril de 2007, fui convidado pela Revista BR HISTÓRIA (Duetto Editorial), de São Paulo, a escrever um texto sobre o Plebiscito de 21.04.1993 e a história dos príncipes de Orleans-e-Bragança. Assim finalizo o artigo A árvore imperial:
A maior parte dos monarquistas brasileiros deposita em D. Pedro Luiz (1983), primogênito de D. Antonio João, todas as esperanças e aspirações. O jovem príncipe, graduado em Administração pelo IBMEC do Rio de Janeiro, vive atualmente no Grão-Ducado de Luxemburgo, onde trabalha no sistema financeiro. O vigor da juventude e a seriedade de seu caráter são sempre apresentados, por familiares e amigos, como os fatores preeminentes para sua futura entronização.
Os súditos de D. Pedro Luiz — um Orleans-Bragança-Wittelsbach-Ligne-Bourbon-Nassau-Weilburg —, três vezes descendente direto de D. João VI e três vezes descendente colateral de Maurício de Nassau, imaginam que ele poderá ser no Brasil do século XXI uma espécie de D. João IV, fundador da dinastia de Bragança e restaurador da independência de Portugal em 1640, após 60 anos de domínio espanhol.
Pois bem, o príncipe-herdeiro dos sonhos de milhares de brasileiros, que também era um súdito belga e residente luxemburguês, voltava para seu trabalho, algo que encarava com uma gravidade fora do comum. Lembro-me da vez em que ele e eu estávamos no mesmo “frescão”, indo para o trabalho, no Centro do Rio de Janeiro: ele começara a estagiar semanas antes e estava nervoso com o fato de ainda não ter uma função definida no emprego. Queria demonstrar competência, queria experimentar suas habilidades.
Sempre me perguntei, sobretudo nos últimos dois anos, quando os caminhos da vida não mais me fizeram encontrá-lo, se de fato queria/ansiava o que lhe imputavam, afinal eis um fardo plenamente incomum para os de nossa geração; a resposta agora nada interessa, sendo a própria Divina Providência quem indica que nossas aspirações familiares, sociais, religiosas, políticas, econômicas, estão todas subordinadas a Seus alvitres, misteriosos e gloriosos ao mesmo tempo.
Nos últimos meses, o Instituto D. Isabel tem sofrido perdas enormes: em janeiro se foi o secretário Vanderli Teixeira, 27 anos, jovem portentoso, diretor da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos do Rio de Janeiro; em abril faleceu Dr. Juarez Távora, nosso presidente de honra, 77 anos e décadas de serviço e amor ao Brasil. Filho e homônimo do Marechal Juarez Távora (1898-1975), ele era procurador do Trabalho aposentado e se dedicava comprazido às atividades culturais e filantrópicas. Agora se vai D. Pedro Luiz, 26 anos, sócio honorário inato do IDII pelos nossos Estatutos Sociais, vez que é descendente da Redentora. Recebia nossas mensagens quase diárias e nele tanto esperávamos: que pudesse um dia ser no Brasil uma liderança moral capaz de arregimentar forças e impor à classe política nacional uma honradez e seriedade que a imensa maioria não possui. Se seria, ou não, coroado imperador, não importa. O que importa é que poderia ajudar a impedir que a nossa política continue sendo um lugar privilegiado para a ação de escroques e venais, bandidos disfarçados de autoridades.
Mas... o herdeiro da bonomia de D. João VI e da timidez de D. Pedro II, que resplandecia amabilidade em seus sorrisos, encontrou-se com seus avós São Luís de França, São Nun´Alvares de Portugal, Santa Edwiges, Santa Isabel da Hungria, Santa Isabel de Portugal e tantos outros que a Igreja ainda não canonizou, mas que reinam absolutos em nossos corações. Talvez o Príncipe fosse bom demais para o Brasil atual. Talvez a poética hebraica, representada pela sabedoria salomônica no 3º Livro de Provérbios, defina a questão:
Meu filho, não te esqueças de meu ensinamento e guarda meus preceitos em teu coração
porque, com longos dias e anos de vida, assegurar-te-ão eles a felicidade.
Oxalá a bondade e a fidelidade não se afastem de ti! Ata-as ao teu pescoço, grava-as em teu coração!
Assim obterás graça e reputação aos olhos de Deus e dos homens.
Que teu coração deposite toda a sua confiança no Senhor! Não te firmes em tua própria sabedoria!
Sejam quais forem os teus caminhos, pensa nele, e ele aplainará tuas sendas.
Não sejas sábio aos teus próprios olhos, teme o Senhor e afasta-te do mal.
Isto será saúde para teu corpo e refrigério para teus ossos.
Honra o Senhor com teus haveres, e com as primícias de todas as tuas colheitas.
Então, teus celeiros se abarrotarão de trigo e teus lagares transbordarão de vinho.
Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, nem te espantes de que ele te repreenda,
porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima.
Feliz do homem que encontrou a sabedoria, daquele que adquiriu a inteligência,
porque mais vale este lucro que o da prata, e o fruto que se obtém é melhor que o fino ouro.
Ela é mais preciosa que as pérolas, jóia alguma a pode igualar.
Na mão direita ela sustenta uma longa vida; na esquerda, riqueza e glória.
Seus caminhos estão semeados de delícias. Suas veredas são pacíficas.
É uma árvore de vida para aqueles que lançarem mãos dela. Quem a ela se apega é um homem feliz.
Foi pela sabedoria que o Senhor criou a terra, foi com inteligência que ele formou os céus.
Foi pela ciência que se fenderam os abismos, por ela as nuvens destilam o orvalho.
Meu filho, guarda a sabedoria e a reflexão, não as percas de vista.
Elas serão a vida de tua alma e um adorno para teu pescoço.
Então caminharás com segurança, sem que o teu pé tropece.
Se te deitares, não terás medo. Uma vez deitado, teu sono será doce.
Não terás a recear nem terrores repentinos, nem a tempestade que cai sobre os ímpios,
porque o Senhor é tua segurança e preservará teu pé de toda cilada.
Não negues um benefício a quem o solicita, quando está em teu poder conceder-lho.
Não digas ao teu próximo: Vai, volta depois! Eu te darei amanhã, quando dispões de meios.
Não maquines o mal contra teu vizinho, quando ele habita com toda a confiança perto de ti.
Não litigues com alguém sem ter motivo, se esse alguém não te fez mal algum.
Não invejes o homem violento, nem adotes o seu procedimento,
porque o Senhor detesta o que procede mal, mas reserva sua intimidade para os homens retos.
Sobre a casa do ímpio pesa a maldição divina, a bênção do Senhor repousa sobre a habitação do justo.
Se ele escarnece dos zombadores, concede a graça aos humildes.
A glória será o prêmio do sábio, a ignomínia será a herança dos insensatos.
Sucede-o seu irmão D. Rafael Antonio. Mas não o substitui, pois os seres humanos, na riqueza incomensurável da Criação, são individualíssimos e, portanto, insubstituíveis. Este é o sentimento, imagino, do próprio Rafael, ou de Amélia, da irmã caçula e de todos os membros de sua Família.
A eles todos, envio minhas condolências viscerais, que sei serem as de tantos compatriotas meus, rogando à Mãe de Deus e Nossa, a Virgem da Conceição Aparecida, que os reconforte na dor indescritível por que passam.
Que o Sagrado Coração de Jesus conceda a Suas Altezas a graça de manterem seus bens mais preciosos: a dignidade de seus ancestrais e a fé política e religiosa no Brasil.
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Deve-se visitar: www.idisabel.org.br/pedroluiz
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