sexta-feira, 15 de agosto de 2003

Discurso de Formatura em História (PUC-RIO)


(Excelentíssimas Autoridades presentes — elencar, se for o caso);
Senhora Profª. Flávia Maria Schlee Eyler, Diretora do Departamento de História;
Senhores Pais, Avós, Tios e demais familiares dos Formandos de História da PUC-Rio;
Meus queridos amigos,

BOA NOITE!

Hoje, 15 de agosto de 2003, é um dia de profundo júbilo para todos nós. Neste dia, uma das primeiras grandes etapas de nossas vidas, encontra seu desfecho.

Tornamo-nos Adriana, Andréia, Cristina, Elza, Isabel, Luiz Cláudio, Mariana, Paula, Paulo Henrique, Tatiana, e este que lhes fala, HISTORIADORES para sempre. Sejamos pesquisadores, professores ou futuros profissionais de outras áreas das Ciências Sociais, a marca daquela que é a Mestra da Vida, para o grande Cícero, jamais nos abandonará. Seremos sempre aqui, nesta peregrinação terrestre, os fiéis discípulos dos primeiros HISTORIADORES: Heródoto, Tucídides, Políbio.

Como eles antes de nós, acreditamos, por mais estranho que isso possa parecer ser, que de alguma forma, intuitiva ou cientificamente, possamos esmiuçar o passado, nele encontrando respostas a desvendar eventuais problemáticas que se nos façam presentes.

Aliás, é o que somos: profissionais, por excelência, do ofício do PASSADO. Mas que PASSADO é esse? Acreditaríamos, anacronicamente, que a máxima de Cícero tenha total procedência? Será que, de fato, somos fiers — como se diria em Francês —, i.e., confiantes de que a HISTÓRIA deva conduzir nossas vidas; que os exemplos de nossos maiores deva encaminhar nossas ações presentes? Sim e não.

SIM, porque se não acreditássemos em parte nisso, não teríamos cursado a Faculdade de História; nossos gostos, preferências e aptidões encaminhar-nos-iam a outros campos de formação do saber. Outros ventos nos fariam ser atraídos pelo Direito, por exemplo, onde a jurisprudência atende às necessidades em momentos críticos, apontando para que a exemplaridade seja seguida; ou para a Sociologia e a Antropologia, onde a origem das sociedades e suas diversas evoluções culturais tentam explicar quase que in totum a condição humana; ou para a Comunicação, onde o evento tem de ser obrigatoriamente definido pelo que se passou antes dele; ou pela Psicologia, onde o comportamento humano se define pelas experiências que passamos na infância e nossas origens familiares, etc.

Ainda respondendo sobre se a História é ou não Mestra da Vida para nós, podemos dizer que NÃO se tivermos ideologicamente a certeza de que soluções se fazem no presente, com as nossas motivações próprias e através de nossa ação social enfática; seja pelas nossas penas, a serviço de profundas alterações no ambiente intelectual; seja pelas nossas salas de aula, proporcionando novíssimos horizontes aos que nos escutam, uma vez que o olhar crítico é a riqueza máxima da História; seja por outras vias, onde se possa também persistir no intuito de superação das nossas mazelas sociais.

Agora que já falamos sobre a especificidade de nosso Curso de História, resta colocar um pouco sobre a diversidade dos Historiadores que hoje se formam e aqueles que mesmo caminhando juntos, só poderão fazê-lo no ano que vem. Ela é tanta e tamanha, senhoras e senhores, que nem todo o tempo desta cerimônia seria suficiente para registrar.

Basta dizer o seguinte: somos uma turma, independentemente do período em que cada um se encontre. É impressionante o quanto essa faculdade mudou nossas vidas, no sentido de amadurecer indelevelmente nossas personalidades. Convivemos aqui nesses quatro a cinco anos, perfis de todos os tipos: esquerdistas, centro-esquerdistas e centro-direitistas — direitistas mesmo, creio que não haja entre nós.

Com DEMOCRACIA convivemos e aprendemos a nos apreciar mutuamente, mesmo os dois jovens líderes dos dois MSTs que teoricamente tanto se oporiam, nas jocosas palavras do nosso catedrático Prof. Ilmar Rohloff de Mattos: o Movimento dos Sem-Terra, representado pelo caro José Luís Rodrigues e o Movimento dos Sem-Trono, representando por este que ora tem o prazer de lhes falar.

Discutimos, concordando e discordando, mas debatendo, católicos, protestantes, agnósticos e ateístas, fossem alunos com alunos ou mesmo alunos com professores, o que de nenhuma maneira foi impedido neste Curso pela possibilidade de um autoritarismo casual de um mestre ou outro. Houve mesmo discussões polêmicas, mas não acreditamos que elas delineiem mal-estares entre nós.

O que houve, isso sim, foi DEMOCRACIA. Não importa se a forma de governo inventada pelos gregos na Antiguidade é, in locu, uma forma burguesa de governo — e sob esse aspecto, antagônica tanto aos aristocracistas — que são os aristocratas de orgulho insano —, quanto aos anarquistas e comunistas. Winston Spencer-Churchill, o Primeiro-Ministro britânico mais famoso do séc. XX, diria insuspeito, nesse sentido, pois era membro da Casa Ducal de Marlborough, que “A DEMOCRACIA não é a melhor forma de governo: só não existe nenhuma outra para substituí-la”.

Pois não só não há nada que a substitua, como nossa ambiência cotidiana provou que ela supera as expectativas. É essa, sem sombra de dúvidas, a maior lição que podemos tirar de nossa formação de historiadores nesta Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, uma universidade portanto confessional, não só católica como “universidade do Papa” pois pontifícia: a de que nossa fraternidade é possível, a despeito das diferenças. E observem que as diferenças são, como já se disse, de tão grande monta que pensamos em uma expressão que as caracterizaria num só lance: PLURIVERSO. O que demonstra cabalmente aquilo que pude escrever, quando da fundação do Instituto Cultural D. Isabel I a Redentora, em 13 de Maio de 2001: dos três lemas da Revolução Francesa, somente é possível a absolutização do último deles, que é o ideal augusto cristão e de várias outras religiões. Pois a igualdade absoluta e a liberdade absoluta não existem, não são humanamente possíveis e creio que nem desejáveis.

Em Filosofia, UNIVERSO significando diversos em um bem daria a idéia do que representamos. Indo além, podemos perceber que se mudamos tanto, uns com os outros e uns por causa dos outros, não somos mais, com efeito, os mesmos que entraram aqui há quase cinco anos. Dessa forma, se éramos vários em uma turma, passamos a ser vários em um departamento, depois vários em uma universidade e, por fim, vários em nós-mesmos, o que mais importa no senso de PLURIVERSO a que fiz referência.

Os conflitos existiram e foram bastantes. Mas são eles que ajudam a construir a DEMOCRACIA, nas assertivas do socialista italiano Antonio Gramsci, que caras soam, sabemos, aos ouvidos de nossa energética — para não dizer enérgica — Paraninfa, Profª. Silvia Patuzzi.

Para finalizar, resta ainda agradecer. A DEUS em primeiro lugar. Aos nossos Pais, que nos proveram para que fosse possível material e espiritualmente esta caminhada; aos nossos demais familiares, na mesma intenção. Aos nossos professores, nas pessoas de quem muitas de nossas posturas enquanto historiadores se inspirarão.

Em especial, um agradecimento sincero e profundo vai para a ANDRÉA, sem a qual essa solenidade talvez nem se fizesse, tal o seu empenho e envolvimento para a realização. Também aos queridos funcionários de nosso Departamento — Anair, Cláudio, Cleuza e Edna, sempre tão solícitos e atenciosos. E para a Diretora do Departamento, Profª. Flávia Maria Schlee Eyler, a quem devemos os melhores gestos de gratidão pela colaboração com nossa formatura.

A TODOS VOCÊS FICAMOS MUITÍSSIMO OBRIGADOS!

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